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A cidade em ritmo de espera

Obras de revitalização do Córrego Segredo na avenida Ernesto Geisel estão paradas há quatro anos e moradores cobram uma solução


João Vitor Marques Rocha e Sarah Neres


Os primeiros raios de sol iluminam a Cidade Morena, nasce um novo dia. Campo Grande é entremeada por fluxos d’água. A caminho do trabalho, parado no trânsito, a imaginação de um motorista alcança a sensação de navegar pelo córrego que corta a cidade. A nascente que vem do Norte, segue seu caminho para o Sul, interliga ruas e vidas e se desmancha no Rio Anhanduí. Uma via aquática bem mais ligeira que a terrestre.


No córrego Segredo, que corre em meio às avenidas, o motorista se sente levado com a brisa fresca do ar. Seu caminho flui sem interrupções, uma jornada tranquila pela cidade. Mas, dentro do carro, a imaginação é rompida pela buzina do veículo que vem atrás. A volta à realidade, no cruzamento da avenida Ernesto Geisel com a Rua Bom Sucesso, salva

Perigo: córrego permanece sem sinalização

o motorista de um acidente. É preciso desviar de um buraco enorme, causado pelo deslizamento da encosta do córrego Segredo e que há muito tempo está no local sem conserto e sem qualquer sinalização.

Após cinco anos, as obras na Avenida Ernesto Geisel seguem sem ser finalizadas. A força-tarefa da Prefeitura Municipal para recuperar uma das avenidas mais importantes da cidade iniciou em 2018, com previsão de entrega de 30 meses. As melhorias tinham o intuito de acabar com incidentes no local, como enchentes, deslizamentos de encostas e erosões na pista, ocorridos principalmente em épocas de chuva intensa. Nesses períodos, a água transbordava em forte velocidade e devastava a região.

A engenheira sanitarista e ambiental Mariane Morais explica que as encostas de córregos são áreas de alagamento natural, contudo, o desmatamento nessas áreas pode ser o principal fator para deslizamentos. “A falta de vegetação no entorno, aliada à pressão hidráulica da água das chuvas, ocasiona o desprendimento do solo e o deslizamento no corpo d’água”.

As obras no local foram divididas em três trechos (setores 1, 2 e 3), sendo os dois primeiros na Avenida Ernesto Geisel entre as ruas Santa Adélia e Bom Sucesso e o terceiro lote da Rua Bom Sucesso até a Rua Aquários. Ocorre que o único trecho finalizado pela empreiteira responsável, a Gimma Engenharia Ltda, de Minas Gerais, foi o do setor 3, justamente aquele que fica mais próximo ao Shopping Norte Sul, um dos pontos turísticos e comerciais mais importantes da Capital.

De acordo com informações obtidas do próprio site da Prefeitura de Campo Grande, a empreiteira Drenos Construções, com sede no Paraná, responsável pelos setores 1 e 2, abandonou as obras durante a pandemia, alegando alta excessiva nos valores de custo do projeto e um grave prejuízo para a empresa. As melhorias no local, antes da interrupção dos trabalhos, contemplaram apenas o lado da pista que liga o Centro à Avenida Manoel da Costa Lima, em que foi instalado um sistema de contenção de encostas que permanece firme.


Obras inacabadas: um problema persistente na vida dos moradores

Ainda que com a obra inacabada, ao menos um dos principais problemas do local foi resolvido: as enchentes que assombravam os moradores da região há décadas e que causaram inúmeros prejuízos para as famílias que ali viveram. Segundo Marcílio Severino Dias, comerciante que vive e trabalha há 20 anos na avenida, mesmo nas chuvas fortes dos últimos meses, novas enchentes não ocorreram no local.

Mesmo assim, quem vive por ali deseja que o poder público tome uma atitude e que as obras sejam finalizadas. Além de um desejo, esse é um direito da população, visto que dinheiro público foi investido no projeto e a paralisação acarreta prejuízo ao erário. “É obrigação (das autoridades) arrumar. Não pode deixar uma rua bonita dessa assim, do jeito que está para sempre. Ainda mais porque junta lixo e aumenta o movimento de usuários de drogas”, afirma o comerciante Marcílio.

Para Mariane Morais, o principal erro está na ausência de ações e políticas na origem dos problemas, isto é, no sistema de drenagem da cidade como um todo, buscando reduzir o volume de água que chega ao córrego da avenida. A engenheira ainda ressalta outro ponto, a qualidade das obras do entorno e do próprio córrego, que se mostraram ineficazes. “Uma solução seria a recomposição da cobertura vegetal nas margens dos córregos e nas áreas suscetíveis de alagamento”, sugere.

Esses trechos da Avenida Ernesto Geisel não são os únicos a apresentar tais problemas na cidade por conta de obras inacabadas. A alguns metros do local, uma cratera localizada em frente ao Ginásio Poliesportivo Avelino dos Reis, o Guanandizão, também às margens do Córrego Segredo, se encontra sem solução desde o fim de setembro de 2021 e só tem aumentado de tamanho. Outro caso que chama atenção é o da Avenida Filinto Muller, junto ao Lago do Amor, que está com um dos lados da pista interditado em decorrência do desabamento de uma parte da via desde as chuvas do dia 4 de janeiro deste ano.

Questionada acerca dos problemas que ainda persistem no local, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), setor da Prefeitura de Campo Grande responsável pelas obras, informou que um novo edital de licitação foi publicado no último dia 17 de julho. A nova obra consiste na realização de muros de gabião (muro de pedra envolto em gaiolas metálicas) para a contenção de erosão na margem esquerda do rio entre as ruas Abolição e Bom Sucesso, semelhante ao que foi feito na margem oposta.

A Sisep ainda afirma que na nova etapa da obra será acrescentado um trecho de ciclovia de 850 metros, além da reparação do asfalto em pontos da avenida e correção do leito do rio para prevenção de erosão na ponte da rua Aquário. O prazo para a conclusão é de 19 meses.


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