Isabelly Melo, a primeira mulher a narrar um jogo de futebol oficial em Mato Grosso do Sul, abriu as portas para mulheres no cenário dos esportes regional
Texto: Anna Bruschi, Luiz Gusmão e Sophia Lescano
Fotos: Anna Bruschi
Nascida e criada em Campo Grande, Isabelly Esteves Melo Silva, 27 anos, sempre se destacou por sua espontaneidade. Movida pela energia contagiante que a levou, desde pequena, a ser “a menina que falava demais”, não demorou muito a perceber que a comunicação era seu talento natural. Não se pode ignorar sua paixão pelo futebol e pelo futsal, que se enraizou a partir das tardes no sofá com o irmão, ambos admirando a camisa 7 vermelha de Cristiano Ronaldo no Manchester, clube inglês de futebol. Também a lembrança de seu pai assistindo jogos de futebol na televisão e escutando a narração pela rádio, confirmaram suas opções profissionais.
No Ensino Médio, sua maior dúvida era a escolha entre o Jornalismo e a Educação Física. Após um teste vocacional, foi o desejo de trabalhar com jornalismo esportivo que falou mais alto, sendo inspirada por figuras como Fernanda Gentil e Glenda Kozlowski, ambas da Rede Globo. Durante a faculdade, iniciou sua vida profissional em um estágio na rádio CBN, onde teve suas primeiras experiências próximas da carreira, aprendendo desde rádio até redes sociais e jornal impresso. Mas, foi a narração que a cativou. Entre hesitações e incentivos, aceitou seu primeiro convite para narrar um jogo de futebol. Foi desafiador. A voz ainda insegura, as palavras difíceis de encontrar, mas Isabelly percebeu que, para ela, narrar era como viver o jogo de dentro do campo.
Com o seu bordão “Fala pessoal, tudo em cima?”, Isabelly faz um convite para o público se conectar a cada detalhe da emoção esportiva
A grande virada veio em 2021, com o reality “Narra Quem Sabe” da ESPN. Entre fonoaudiólogos e treinos de vocabulário, ela moldou sua voz e aprendeu a conduzi-la como uma melodia. A professora de fonoaudiologia falava sobre a importância da emoção, exigia que Isabelly tivesse uma intensidade que fosse além da técnica, uma entrega quase teatral. Desde então, passou a entender que cada jogo narrado é também um retrato, uma história que cabe a ela, a primeira mulher a narrar um jogo em seu estado, contar.
Sua experiência mais marcante veio com um jogo de futsal. Era uma partida do time Taboão, carregada pela morte de uma das jogadoras, Pietra Medeiros. Isabelly sentiu o peso da história que deveria narrar e segurou as lágrimas ao contar sobre a homenagem que as jogadoras faziam a cada gol para a companheira de time. Esse episódio evidenciou a força de sua vocação, pois para ela, a narração é contar uma história ao vivo.
O momento mais impactante para ela foi a cobertura da pandemia da COVID-19. Todos os dias, preparava o boletim de mortes e casos registrados. Cada número, cada vida perdida lhe pesava como uma marca. Quando soube da previsão de chegada do primeiro lote da vacina ao aeroporto da cidade, Isabelly não estava escalada, mas pediu para estar ali. Na cobertura da década, em sua opinião, Isabelly não apenas contou uma história para os ouvintes; ela viveu a notícia, e sentiu na própria pele, o peso do luto e o valor da esperança.
Ao ver a primeira senhora se vacinar, Isabelly lembrou de sua avó e ligou para ela, as duas choraram vendo um fim para aquela pandemia
Hoje, Isabelly ainda vê desafios para as mulheres no jornalismo esportivo, mas acredita que, com mais apoio e visibilidade, o espaço para as narradoras esportivas será cada vez mais consolidado. Isabelly segue determinada a crescer na carreira. Seu objetivo é trabalhar em um ambiente que valorize a proximidade com o público, como a Cazé TV, em que o esporte é comunicado de maneira descontraída. Mais do que narrar, ela deseja ser a voz que traduz a paixão do esporte para cada ouvinte.
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