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Abandono de animais é chance para adoção responsável

Em Campo Grande, são mais de 200 mil cães e 70 mil felinos em toda a cidade, o que significa que a cada três habitantes, um possui um ou mais pets.


Ana Caroline Krasnievicz, Ian Netto e Polyana Vera


Uma pesquisa realizada pelo CensoPet revela que o Brasil está  em 3º lugar no ranking dos países com maior população animal no mundo. O que esse dado não revela é que 40% dessa população de animais está nas ruas. No Brasil, estima-se que haja 30 milhões de animais abandonados, incluindo 10 milhões de felinos e 20 milhões de cães.

Estima-se que Campo Grande tenha cerca de 5 mil animais vivendo nas ruas, fruto da procriação descontrolada, o que contribui para um aumento contínuo desse número. Segundo o médico veterinário Francisco Baltazar, a população de animais em Campo Grande dobrou após a pandemia. "O número de cães aumentou devido ao comodismo, enquanto o de felinos saiu do controle".

O veterinário Francisco Baltazar contabiliza o abandono de animais na cidade (Foto: Ian Netto)


Com o grande número de animais nas ruas, o índice de denúncias por abandono dobrou desde 2019. A Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (Decat) registrou um aumento de 106% nas denúncias de maus-tratos e abandono de animais em Campo Grande. Em 2023, foram mais de 625 denúncias, e nos primeiros seis meses de 2024, já foram registradas 220 denúncias. A maioria das denúncias refere-se a animais abandonados, muitos dos quais amarrados, sem alimentação e água potável.

O médico veterinário Francisco Baltazar ressalta que, apesar das boas intenções, retirar os animais das ruas requer preparo adequado. "Muitas pessoas querem ajudar retirando os animais das ruas, mas ser tutor de um pet exige recursos. É preciso investir em ração de qualidade, proporcionar espaço para exercícios, além do cuidado básico. Muitas vezes, as pessoas não compreendem totalmente o que constitui maus-tratos, que vai além da agressão física e do abandono", enfatizou o médico.

Para Bruno Nóbrega, secretário do Bem Estar Animal, o aumento do número de animais abandonados reflete a falta de informação. "Muitas pessoas adotam um pet sem conhecer as responsabilidades, como vacinação, castração e alimentação adequada. Acreditam que basta ter o animal em casa, mas há muito mais envolvido. É necessário cuidado constante, pois estamos falando de vidas que dependem de nossa atenção, carinho e cuidado. Quando isso não acontece, o resultado é o abandono".

 Para enfrentar essa realidade, as secretarias de Bem Estar Animal em todo o país têm realizado ações para conter o crescimento desse número, oferecendo cirurgias de castração à população. "Estamos implementando medidas para reduzir o número de animais abandonados. Em Campo Grande, por exemplo, temos o Castramóvel, que leva cirurgias de castração para diferentes regiões da cidade", explicou o secretário.

Além disso, Bruno Nóbrega ressaltou a necessidade da construção de um abrigo municipal como parte da solução para abrigar esses animais. "Já temos um terreno e uma proposta para construir um abrigo municipal, proporcionando uma melhor qualidade de vida para esses animais e reduzindo os acidentes envolvendo animais nas ruas", concluiu.

Em Campo Grande, são mais de 200 mil cães e 70 mil felinos em toda a cidade, o que significa que a cada três habitantes, um possui um ou mais pets em casa.

A Subea conta com a ajuda das ONGs independentes para retirar os animais das ruas. Atualmente em Campo Grande há registro de 175 ONGs e abrigos, que são responsáveis por mais de 2.205 animais, dados que foram levantados pela comissão dos direitos dos animais pela Ordem dos Advogados do Brasil - OAB/MS

 

   Adriana de Moraes, 42 anos, é uma moradora do bairro Parque dos Poderes nas Capital, com um coração grande e um amor incondicional pelos animai a bacharel em Direito iniciou há dez anos sua jornada de resgate de cães e gatos abandonados, quando encontrou um filhote de cachorro faminto e assustado perto de sua casa. Sem hesitar, Adriana levou o animal para casa, cuidou de suas feridas e encontrou um lar amoroso para ele.

   “Eu acabei adotando. Foi a primeira vez que fiz um resgate e acabei ficando com ele. Ainda não tinha nenhum bichinho em casa”, relata Adriana. Jorge, como foi nomeado, era um cachorro de porte pequeno, com pernas curtas e pelos curtos na cor marrom. Adriana conta que Jorge viveu com ela por 13 anos. “Ele faleceu no ano passado. Foi um cachorro muito bom, ainda sinto saudades dele”.

   Em uma década de trabalho voluntário, Adriana estima ter resgatado mais de 30 cães e gatos. Ela adotou alguns desses animais e providenciou lares temporários para outros. Além de oferecer alimentação, Adriana custeia consultas veterinárias e castração enquanto busca adotantes permanentes para os animais.

   Adriana de Moraes revela que sua motivação para resgatar animais vem da compaixão. “Há pessoas maldosas que não se importam com os bichinhos. Quando se deparam com situações como mudar de casa ou viajar, simplesmente abandonam os animais na rua. Esses animaizinhos não têm culpa de nada e nem entendem o que está acontecendo”, desabafa.

   Mesmo com os custos envolvidos no resgate de animais, Adriana os paga de bom grado e estima já ter gasto facilmente mais de 10 mil reais com esses resgates. “Gasta bastante. Se eu resgatar um animal saudável, ele vai custar pelo menos 150 reais com consulta e castração, isso sem contar ração e algum remédio caso ele precise, em casos de animais doentes ou machucados esse valor acaba sendo bem mais alto”.

   Ao longo dos anos, Adriana conquistou parceiros importantes, como a Clínica Veterinária São Francisco de Assis. “Esses custos mais baixos de consulta e castração são graças à parceria que fiz com as meninas da clínica. Eu levo o cão ou gato lá, elas fazem o atendimento e a castração, eu arco com os custos e todos ajudam a encontrar um lar para o bichinho”.

   Histórias de resgates muitas vezes são recheadas de encontros inesperados e laços profundos. Foi exatamente assim que Vânia Fernandes, 30 anos, encontrou Frida Maria, uma gatinha rajada, gordinha e extremamente carinhosa. "Quando eu me mudei para o condomínio onde estou atualmente, ela já estava lá. Aparecia de vez em quando, sempre muito afetuosa, mas não pertencia a ninguém", relembra Vânia.

   Com o tempo, Vânia decidiu adotar a gatinha, batizando-a de Frida Maria. Hoje, Frida Maria não está sozinha; ela tem a companhia de outra gata adotada por Vânia, chamada Fia. "As duas foram adotadas e são o amor da minha vida", declara Vânia, enfatizando sua posição firme em relação à adoção de animais. "Para mim, essa coisa de comprar bicho não existe. Tem tantos animaizinhos procurando por um lar", afirma.

 Em 2020, foi sancionada a lei federal 14.064 que ficou conhecida como lei Sansão, que condena quem maltratar cães e gatos. No capítulo que compõe as penas vigentes para este crime, estará sujeito à reclusão de dois a cinco anos, e em casos que o animal venha a óbito, a pena pode chegar até seis anos de reclusão para o agressor.

Pablo Neves, advogado, pós-graduado em Direito Animal e tutor do Frajola Oficial, assessoria em direito criminal dos animais, falou sobre como novas legislações melhoraram em relação à pena do autor. “Essa Lei foi muito importante, pois anteriormente a pena era de detenção de três meses a um ano, além de multa, ou seja, uma pena muito baixa para a gravidade do crime, porém infelizmente essa lei só abrange cães e gatos. Inclusive, há projetos em tramitação no congresso para aumentar as penas quando se tratar de outros animais, incluindo animais silvestres”.

Frajola foi considerado o primeiro gato comunitário de Campo Grande. Imagem: Arquivo Pessoal


A  Lei 6.194/2019 é uma das legislações municipais e estaduais que também protegem os animais e veda a nomeação na administração pública municipal para todos os cargos efetivos ou comissionados de pessoas condenadas em definitivo em crimes de maus-tratos. Segundo um levantamento da Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais, entre os anos de 2022 e 2023, Campo Grande tinha mais de 5 mil animais que estavam em cerca de 100 abrigos de responsabilidade de protetores independentes e ONGs, que são oriundos de abandono e/ou maus-tratos. No ano de 2023, através destes dados, foi proposto uma ação civil pública pelo Ministério Público Estadual para que o município fosse responsável por custear os animais acolhidos em ONGs e protetores independentes, porém nada foi decidido e o processo ainda segue.

As ONGs e instituições independentes têm um papel fundamental no resgate e acolhimento de animais que vivem em situação de abandono e maus-tratos, porém, precisam sempre de apoio financeiro, principalmente por serem órgãos não governamentais. “ Hoje as ONGs estão adoecidas por conta do descaso do Poder Público no auxílio à essas instituições, não dão o apoio financeiro necessário e principalmente, falta o apoio psicológico para essas pessoas que dão a vida pelos animais e acabam adoecendo, e sem a saúde mental adequada, os animais também adoecem, porque é uma corrente, os animais dependem dessas pessoas.

O Poder Público há mais de 10 anos não realizou a construção de um centro de acolhimento e o hospital veterinário municipal, que ajudaria a tirar a sobrecarga dos protetores independentes, e sempre fica a promessa em campanhas, mas isso nunca sai do papel, parece que após eleitos, esquecem que os animais existem.” desabafou o advogado sobre a situação de vexame que vive a capital.

ONG Abrigo dos Bichos em Campo Grande.. ( Imagem: Arquivo Pessoal)


Além da atuação de ONGs, é essencial que a sociedade se conscientize sobre a responsabilidade que envolve a posse de um animal. A adoção responsável, a castração para controle populacional são passos fundamentais para evitar e diminuir o risco desse abandono.

As denúncias contra maus tratos podem ser feitas na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (DECAT) presencialmente ou através do WhatsApp nº (67) 99653-0934. E em casos de flagrantes, é sempre importante registrar imagens, anotar nomes de testemunhas e todos os detalhes que podem auxiliar na identificação do local do crime. A luta pela defesa dos animais é um compromisso de todos, exigindo empatia, e ação das políticas públicas para garantir um futuro mais digno para os bichinhos.

 


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