Especialista explica como a arteterapia auxilia no tratamento de pacientes dos CAPS de Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Texto e Fotos: Evelyn Fernandes, Gabrielly Miranda e Hyan Martins
Pintura, desenho, escultura e colagem são os novos aliados em tratamentos nos Centros de Atenção Psicossociais de Campo Grande (CAPS) de Mato Grosso do Sul. São estratégias da arteterapia, uma prática que, segundo o Ministério da Saúde, utiliza a arte como base do processo terapêutico. No site, o Ministério da Saúde define: Faz uso de diversas técnicas expressivas como pintura, desenho, sons, música, modelagem, colagem, mímica, tecelagem, expressão corporal, escultura, dentre outras, podendo ser realizada de forma individual ou em grupo.
Sherry Maia, arteterapeuta, hoje é a responsável por instruir psicólogos e enfermeiras nos CAPS da capital sul-mato-grossense sobre a prática da arteterapia. Ela explica que o trabalho que ela e sua equipe desenvolvem é uma continuidade de iniciativas históricas, como as propostas de Nise da Silveira, pioneira desse tratamento em ambientes psiquiátricos.
"Aqui no CAPS, trabalhamos com a perspectiva de que a arte pode ajudar os pacientes a refletirem sobre si mesmos e estruturarem questões que, muitas vezes, permanecem desorganizadas dentro deles"
Arteterapia: os trabalhos ajudam na recuperação de pacientes
Início do projeto
Nascida em Miranda, cidade interiorana do MS, a arteterapeuta conta que cresceu com poucos estímulos artísticos. Ainda assim, desde cedo, ela se desafiou a explorar a criatividade a seu alcance, buscando inspiração no quintal de casa, entre as flores, galhos e objetos que encontrava. Em junho de 2023, Sherry deu início ao projeto de arteterapia nos CAPS em Campo Grande, com implementação gradual no CAPS Afrodite Doris Contis. Seu objetivo era criar um espaço terapêutico e inovador, onde a arte pudesse auxiliar os pacientes a expressarem suas emoções, que muitas vezes refletiam seus traumas, e a desenvolverem autoconfiança, que é um elemento essencial no tratamento de alguns transtornos.
O projeto, que começou de forma experimental, rapidamente mostrou resultados positivos, ampliando-se. Hoje, todos os CAPS de Campo Grande contam com sessões de arteterapia que foram introduzidas por Sherry. Tinta, flores, galhos e materiais de reuso ganham vida em trabalhos artísticos. Ao utilizar elementos da natureza e objetos que seriam descartados, ela incentiva os participantes a olharem para o mundo e para si mesmos de forma renovada, promovendo um processo de cura e autoconhecimento.
“Às vezes, eu vou caminhar, vejo umas florezinhas ou folhinhas e junto para trazer. Comecei a ver de forma diferente.” Conta a psicóloga Marina Metlla, que após o contato recorrente com a arte, começou a ver o mundo de outra forma.
Papel Machê: aproveitar materiais usados e da natureza faz parte da técnica
Um dos principais desafios gira em torno do financiamento e materiais insuficientes. Os arteterapeutas muitas vezes precisam improvisar e criar materiais de itens baratos ou reciclados (por exemplo, criando cola e cores de tintas a partir de materiais prontamente disponíveis), destacando a necessidade de maior investimento em programas de arteterapia.
A arteterapia é um campo mais recente, ainda em processo de formação profissional e reconhecimento. Isso pode criar obstáculos para estabelecer credibilidade e garantir recursos adequados. Para lidar com a falta de recursos, a equipe desenvolve soluções criativas, como fazer cola caseira e diluir tinta para aumentar o volume. Eles também usam materiais reciclados, como caixas de ovos.
“A gente sempre acaba optando por materiais alternativos para conseguirmos reproduzir depois. A oficina mesmo é de papel machê, que a gente faz com caixas de ovos e com cola caseira”, afirma a psicóloga da unidade”.
Outro desafio encontrado pela equipe de arteterapia é, muitas vezes, a falta de adesão da prática em algumas alas. No tratamento de pacientes esquizofrênicos, por exemplo, não há contribuição dos profissionais do local para a arteterapia.
Sherry Maia explica que a baixa adesão em áreas como essa ocorre pois as enfermeiras e psicólogas responsáveis por essa classe de pacientes passam o dia exaustas, em razão da grande demanda de cuidados essenciais que prestam a eles.
Mais do que um tratamento: A prática envolve amor, cuidado e carinho
Mesmo com desafios, a arteterapia proporciona grandes transformações, ainda em pacientes que, inicialmente, podem parecer mais agitados ou desinteressados. A expressão artística permite que eles lidem com suas emoções e desenvolvam habilidades, como criar peças que podem até ser vendidas em feiras para arrecadar dinheiro que será destinado à compra de novos materiais para as oficinas, ou até mesmo, para que os pacientes tenham uma renda própria.
O trabalho também inclui contação de histórias, que precisa de voluntários.
Quem quiser colaborar com o projeto pode entrar em contato pelo Instagram @sherry_maia.
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