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Ascensão do Fashion em redes sociais: entre o glamour e a desigualdade

A influência do TikTok no consumo de marcas de luxo

Isadora Colete, Julia Nogueira e Keyla Santos


Você consome o conteúdo do Fashion Tik Tok? Na era da tecnologia e das redes sociais, a influência digital tem se estabelecido como uma poderosa ferramenta para moldar gostos, interesses, tendências e até mesmo comportamentos de consumo. No cenário da moda e do luxo, o Tik Tok veio como uma plataforma em que esses influenciadores compartilham suas vidas, seja o dia a dia, suas viagens, festas e experiências consideradas um sonho por muitos que os assistem.

Mas, além disso, a plataforma está repleta das chamadas trends (veja o quadro), uma delas é o “GRWM”, o famoso Get Ready With Me ou, traduzido para o português, Arrume-se Comigo. O objetivo é mostrar roupas, acessórios e maquiagem que os influenciadores utilizam para sair de casa, seja para ir à faculdade ou ao Baile da Vogue.


Influenciadoras ditam a moda nas plataformas digitais

Foto: Instagram/@leleburnier e @pieroniamanda / Alto Astral


Ostentando bolsas, joias e sapatos de grife, os influenciadores de moda fazem sucesso entre o público jovem, que os acompanha constantemente. Arthur Freixo, Malu Borges, Lelê Burnier e Luisa Foresti são apenas alguns dos grandes influencers dessa plataforma que estouraram com a trend e abriram a bolha do Fashion Tik Tok, o que inspirou diversas pessoas a fazerem o mesmo.

Preços exorbitantes: o vídeo da influenciadora causou polêmica na internet


Uma das tiktokers que está em ascensão com esse tipo de conteúdo é a adolescente de 16 anos Júlia Rissato, que com uma postura calma e serena, esbanja seus looks luxuosos. Recentemente, a jovem se envolveu em uma polêmica ao gravar uma trend com seu pai, na qual ele precisa adivinhar o preço das peças e acessórios que ela mostra. A trend, que era para ser engraçada e descontraída, gerou uma grande repercussão negativa na internet pelo modo como ela tratou o assunto em que revelava os preços exorbitantes de seus artigos de luxo para o pai, que demonstrou não saber o valor dos produtos, apesar de serem pagos em seu cartão.

Essa situação fez com que o público que assistiu ao vídeo ficasse chocado com a forma natural com que ela debocha do pai que tenta adivinhar o valor de sua sandália: a menina ri pedindo para ele chute mais alto e logo o valor de 15 mil reais é revelado, causando o espanto do mesmo. Em uma publicação sobre o vídeo que tem 71 milhões no Twitter de visualizações, uma usuária responde: “Esse vídeo despertou ódios em mim que eu nem sabia que existiam”. Logo comentários como este começaram a se espalhar cada vez mais e a menina apagou o vídeo de sua conta do TikTok.

Mesmo sem pretensão, a tiktoker deu visibilidade a um tema que há anos vem sendo omitido e relativizado por muitos: a desigualdade entre as classes sociais. “Eu tenho nojo disso, tanta gente passando fome e ‘nego’ gasta fortuna em coisas fúteis e inúteis”, diz um dos comentários do vídeo polêmico que serviu como um choque de realidade para quem assistiu. Júlia Rissato iniciou sua fama como tiktoker há pouco tempo e sempre ostentou uma vida luxuosa, com sua casa, viagens, perfumes, acessórios, sapatos e roupas de marcas famosas como Chanel, e atraiu mais de 600 mil olhares para sua vida de dar inveja, mas a maioria desconhecia o real valor dessas peças.

De acordo com o economista Eduardo Matos, o TikTok usa artimanhas publicitárias para promover campanhas, marcas e produtos, visto que essa é uma prática antiga, que estava presente muito antes nos jornais, revistas ou na televisão. A questão é que o TikTok acelerou o processo das tendências, pois antes as famosas propagandas demoravam meses para serem disseminadas e agora, com apenas um clique, a publicidade demora algumas horas para chegar ao consumidor.

“Um vídeo de um influenciador como aqueles de vista-se comigo acaba sendo uma publicidade velada”, diz o economista. Apesar de a propaganda ser disseminada mais rapidamente na plataforma, o consumidor não percebe a influência dos vídeos em sua rotina por se tratar de algo comum e a manipulação acabaria acontecendo indiretamente. O economista presume que haja dois tipos de pessoas, as que se sentem insatisfeitas por não conseguirem comprar os produtos das marcas de luxo mostrados pelos influenciadores e outras que se satisfazem com o mercado alternativo, consumindo réplicas desses mesmos produtos para se sentirem incluídas nas tendências midiáticas.

Um desses mercados alternativos é a plataforma de vendas online Shein. Criada na China, a loja oferece roupas e acessórios que estão em tendência no mundo por um preço mais baixo que o do mercado de luxo, criando uma acessibilidade de compra entre seu público. Letícia Franco, 25 anos, acompanha o Fashion TikTok e acredita que a Shein deu uma oportunidade de reprodução desses looks de grife. “Esse é outro debate que a gente ainda tem muito no mundo da moda”, diz se referindo às réplicas mais baratas.


Shein: Roupas da tendência a baixo custo


O sentimento de pertencimento de um determinado grupo é o que faz com que essas mesmas pessoas que assistem e acompanham esses vídeos no TikTok acumulem dívidas ou uma grande insatisfação consigo mesmas e com suas classes sociais. Por esse motivo, encontraram nesse mercado alternativo a possibilidade de se estabelecer neste seleto grupo que acompanha as tendências de moda, mesmo que por pouco tempo. Segundo o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro Modernidade Líquida, “o pertencimento às classes era em grande medida uma realização; diferentemente dos estamentos, o pertencimento às classes devia ser buscado, e continuamente renovado, reconfirmado e testado na conduta diária” . O pensador fala, dessa maneira, que desde a era moderna, queremos imitar, estar de acordo com a norma que a sociedade nos impõe – e a moda é um dos maiores indicadores dessa condição.




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