A capital do MS é a 5ª mais cara do país com o valor de R$ 748,20
Giovanna Montoso, Juliene Marques e Leticia Dantas
Do mês de Janeiro a Fevereiro de 2024, Campo Grande saiu da sexta colocação para a quinta, entre as dezessete principais capitais brasileiras, com aumento de 1,55% no valor da cesta básica, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O valor representa mais de 116 horas de trabalho do campo-grandense.
A capital tem uma população de mais de 890 mil habitantes, sendo que 244 mil destes viviam, em 2023, com um rendimento domiciliar de no máximo 1,5 salários mínimos per capita, segundo o Dieese. Com o último aumento do salário mínimo, em 2024, o valor subiu de R$1.302,00 para R$1.412,00. A compra de uma cesta básica representa 53% deste valor, sobrando apenas R$663,80 para outras despesas como moradia, transporte e reservas de emergência.
A economista Leila Ribeiro afirma que o salário mínimo é insuficiente para cobrir as despesas básicas, o orçamento destinado à alimentação fica comprometido. “Isso resulta em dificuldades para acessar alimentos nutritivos e variados, levando a uma alimentação de baixa qualidade e, em alguns casos, à insegurança alimentar”.
Para Ricardo Costa, auxiliar de serviços diversos na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que consome cesta básica mensalmente, o principal impacto é a diminuição da quantidade de alimentos, por conta dos altos preços que não são proporcionais aos baixos salários.
Ricardo complementa que, sua alimentação é composta por uma dieta simples, incluindo apenas carboidratos e proteínas, que muitas vezes são arroz, carne ou ovos, sem diversificação nutricional. Ou seja, com o mínimo de fibras, vitaminas e minerais que são encontrados em frutas, verduras e legumes. A sua nutrição acaba sendo comprometida.
Esse é um dos principais desafios citados por Leila Ribeiro, “A alta inflação dos alimentos impacta diretamente no poder de compra dessas famílias, além da falta de acesso a alimentos frescos e nutritivos, dado o seu alto valor de venda, seja nos grandes ou pequenos comércios alimentícios”. Além disso, segundo dados publicados este ano pela Dieese, produtos básicos como arroz, feijão, carne e óleo tiveram aumento, respectivamente de: 8,85%, 14,54%, 1,90% e 3,01%.
Em Mato Grosso do Sul, 65% da população vive em insegurança alimentar, de acordo com o 2º Inquérito Nacional de Insegurança no Brasil, em 2022. O Ministério da Saúde define a insegurança alimentar moderada por modificações nos padrões usuais da alimentação, paralelamente à restrição de alimentos entre os adultos.
O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2023” realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2020 a 2022, aponta que 21,1 milhões de brasileiros estavam em situação de vulnerabilidade alimentar grave - quando a qualidade da alimentação é comprometida, e ocorre a redução de alimentos entre membros da família.
Mato Grosso do Sul enfrentou um cenário parecido. Em 2022, conforme pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 65% das famílias do estado viviam em condição de insegurança alimentar.
Alimentação é causa de endividamento
Segundo o Serasa, a compra de mantimentos é a principal causa do endividamento, no Brasil, além disso 65% das dívidas em cartões de crédito são referentes a gastos com compras em supermercados e 41% em compras de remédios ou tratamentos médicos.
Elisa Pinheiro, natural de Belém - PA, se mudou para Campo Grande para cursar Física na UFMS, e já notou a diferença dos preços entre os estados. A única renda mensal da estudante é composta pela bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) oferecida pela Universidade, no valor de R$ 700,00 e conta com ajuda familiar para se manter. Entre os seus gastos, estão moradia, transporte e alimentação.
Devido a variação do seu rendimento, Elisa opta pelo uso do cartão de crédito para realizar suas compras mensais. Segundo ela, utilizar esse método de pagamento contribui para que reserve dinheiro para emergências. Porém, ela não ficou de fora dos 65% que acabaram se endividando. “Já parcelei quando tinha o cartão do Hipermercado, mas isso me endividou, porque no próximo mês eu já não podia usar o limite que tinha disponível, pois tinha a parcela para pagar”, ressalta.
A estudante também foi afetada pelo aumento dos preços, que começaram a subir em 2023. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a capital atingiu a marca de 4,76%, representando um alto índice de inflação sobre os alimentos. “Quando o preço de tudo subiu no mercado foi um momento que bateu um desespero, pois fiquei preocupada se teria dinheiro suficiente para me alimentar e pensando em como iria pagar depois, caso usasse o cartão de crédito.”, comenta Elisa.
De acordo com o IBGE, em 2022, 38,6% da população sul-mato-grossense são trabalhadores informais, isto é, não possuem um valor fixo a receber. Para Leila, a concentração de renda, a informalidade no mercado de trabalho e o desemprego são fatores que influenciam no endividamento. Para essas pessoas, a organização por meio de listas acaba sendo um dos principais métodos utilizados para as compras de alimentos.
Situação vivenciada por Elisa que enfrenta mensalmente essa instabilidade, já que não é uma trabalhadora formal. Sobre seu planejamento para as compras no mercado, ela comenta: “Eu anoto o valor da compra passada e tenho uma lista do que preciso comprar para aquele mês, para que eu não me perca nas compras que são necessárias e nas que são supérfluas. Às vezes fixo um determinado valor de gasto, para não extrapolar”.
Além disso, a comparação de preços entre mercados também é uma estratégia utilizada pelos consumidores. Em Campo Grande, de acordo com a pesquisa realizada em 2023 pela Secretaria Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor (Procon/MS), a diferença no valor dos alimentos de primeira necessidade em Campo Grande chegou a variar 180%.
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