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Coffee Week pretende democratizar as cafeterias em Campo Grande

Evento com promoções teve a intenção de facilitar o acesso da população que ainda não frequenta esses ambientes, mas clientes reclamam dos preços e distâncias


Texto e fotos: Clara Deps, Enzo Pereira e Lanna Emi


Trinta cafeterias de Campo Grande participaram da Coffee Week, de 8 a 24 de março, um evento que busca tornar o café mais acessível na capital. Durante dezesseis dias, cada estabelecimento ofereceu no menu, um item composto por uma comida e uma bebida pelo valor fixo de R$22,00.

 

As cafeterias em Campo Grande têm passado por uma transformação nos últimos anos. O simples ato de tomar café deixou de ser apenas uma rotina matinal e tornou-se uma experiência sensorial. No entanto, essa evolução vem com um preço elevado. O café, que antes era uma bebida simples e acessível, agora se tornou sinônimo de sofisticação e, muitas vezes, de alto custo.

 

Segundo a influencer gastronômica Nádia Ayumi aconteceu uma diversificação das perspectivas em relação ao café. “Porque tem o café como bebida pra te dar energia, pra te deixar acordado. O café que já é um costume, que você bebe sempre. Mas cada vez mais tem o café como uma bebida apreciada pra você conversar com os amigos em paz e degustar”.

 

Bruna Gasparini, parceira de Nádia no perfil do Instagram Comer em CG, considera a Coffee Week uma forma de impulsionar o movimento das cafeterias e atrair um número expressivo de entusiastas do café. "A Coffee Week desempenha um papel fundamental em expandir o interesse das pessoas por cafés especiais, introduzindo-as a uma variedade de grãos, métodos de preparo e experiências sensoriais únicas. Além disso, por meio de palestras, workshops e degustações, o evento lança uma luz sobre esse universo fascinante do café. É uma porta de entrada para que essas pessoas descubram e se apaixonem por esse mundo".

 

A gourmetização das cafeterias trouxe não apenas uma diversidade de opções de cafés, mas também uma nova percepção de elitismo associada ao consumo nesses estabelecimentos. Por isso a Coffee Week quer democratizar o acesso a trinta cafeterias selecionadas de Campo Grande. 

 

A estudante de Arquitetura e Urbanismo Sonia Lara diz que a maioria das cafeterias que conhece não oferece preços acessíveis. Ela acha que os estabelecimentos na capital tendem a ser elitizados, o que dificulta sua frequência regular a esses locais, mas aproveitou o evento para conhecer lugares novos. “Vimos alguns lugares que não compensava. Foi uma forma legal de conhecer um novo lugar, experimentar o serviço e comida de lá, e já ter noção do cardápio como um todo”.

 

Para os proprietários das cafeterias da cidade, a Coffee Week foi uma oportunidade para ampliar seus negócios, devido à grande procura pelos pratos da promoção. Esse foi o caso de Ana Lúcia Gomes, dona de uma franquia da cafeteria Cheirin Bão. “O evento tem apresentado um resultado bem bacana e já aumentou o fluxo de clientes. Estamos sentindo a mudança e esse é só o primeiro ano que participamos”.


Combo oferecido pelo Cheirin bão: café gelado e pão de queijo recheado


Um aspecto crucial da promoção foi a seleção dos pratos, conforme explicou a proprietária. A intenção era destacar o cardápio para além das opções de café. "Optamos por um frapê, uma bebida refrescante, e um pão de queijo recheado com carne desfiada. Dessa forma, conseguimos sair um pouco da zona de conforto do tradicional café", concluiu Ana Lúcia.

 

A pós-graduanda em Ciências dos Materiais, Vitória Icassatti, conta que não frequenta cafeterias normalmente, mas foi convidada para ir durante a Coffee Week e aproveitou os preços. “Em alguns lugares valia muito a pena, em outros parecia piada. Esse ano o preço foi de R$22,00 e alguns restaurantes estavam oferecendo uma coxinha e um simples expresso”. A estudante afirma que apesar de o festival ser uma forma de conhecer novos lugares, alguns ainda são inviáveis. “Eu amei o Lugano, mas os preços normais deles são verdadeiros assassinos de poupanças. O Coffee Week proporcionou que eu visitasse o lugar sem gastar muito e aproveitar a experiência da mesma maneira”.

 

Por outro lado, a estudante Isabela Ferreira é uma frequentadora habitual das cafeterias na capital e aproveitou o evento para revisitar quatro estabelecimentos e conhecer dois novos. “Sempre fiquei de olho nos preços normais, e por conhecer várias cafeterias de Campo Grande, posso afirmar que todos os lugares que visitei durante o evento, realmente valeram muito a pena”.

 

Escolha dos combos para o evento

 

Outro estabelecimento participante do evento é o Allegra Café, que apresentou um combo cujo valor regular seria de quarenta reais, porém com o desconto oferecido se tornou mais acessível. Gabriela Castilho Neves, proprietária, compartilhou sua experiência de participar pela segunda vez consecutiva do festival. Orgulhosa da conquista do prêmio “Melhor Menu” na última edição da Coffee Week, Gabriela decidiu manter a mesma proposta este ano. “Nosso objetivo é realmente atrair mais visitantes e proporcionar a eles uma experiência única ao conhecerem o que temos para oferecer”.


Combo do Allegra Café: rosa como toda cafeteria

A proprietária do Allegra Café ressalta a importância da seleção do menu, não apenas para transmitir a imagem adequada do estabelecimento, mas também para satisfazer o cliente. “Optamos pela tapioca rosa porque reflete a identidade única do nosso café. O rosa é nossa marca registrada, então queríamos incluir algo que combinasse. A tapioca rosa e o afogatto foram escolhidos para se complementarem e oferecerem uma experiência gastronômica perfeita”. Para Gabriela, o evento representou uma oportunidade não apenas para ampliar o alcance da cafeteria, mas também para fortalecer os laços com os clientes antigos.

 

Outra cafeteria que se destacou na escolha dos pratos durante a Coffee Week foi a Nanicas, apresentando a Nanicoffee, uma bebida composta por leite, café, doce de leite e chantilly de banana, acompanhado do carro-chefe da casa, a tradicional torta Banoffe. Karina Pauluk, responsável pelas lojas da região Centro-Oeste, aprovou a experiência por receber um público completamente novo durante o evento. "Ficamos impressionados com a quantidade de clientes novos que visitaram nossa loja durante a Coffee Week. Acredito que mais de trezentas pessoas vieram experimentar nosso combo, a maioria delas sendo clientes que nunca tinham nos visitado antes".


Segregação no evento



Apesar de propor democratização do acesso às cafeterias, a Coffee Week carrega a exclusão como fato. O  bairro Jardim dos Estados concentra uma grande  quantidade  das cafeterias participantes da semana. Pelo fato de ser uma região mais rica da cidade, existe uma segregação implícita, que facilita o acesso para pessoas de uma classe social mais alta. Mesmo após os valores diminuírem, quando os fatores de transporte e horário de funcionamento são adicionados, a experiência ainda sai caro.

 

Dos 30 estabelecimentos participantes na Coffee Week, 27 são cafeterias e apenas três são padarias, onde menus parecidos com os da promoção podem sair metade do preço oferecido no evento. Um dos possíveis fatores para essa classificação é a diferença de preço que normalmente são oferecidos por tipos diferentes de estabelecimentos. Enquanto uma padaria da cidade oferece uma variedade de produtos bem maior devido ao tamanho da produção, as cafeterias apostam em um menu específico que represente o local e ofereça uma “experiência individualizada” que, no final, também é incluída na hora de pagar a conta.

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