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Corpos que dançam

Bailarinos mostram que magreza não é essencial


Amanda Melgaço, Denize Rocha e Vitória Martins


Gabriela mostra sua técnica em apresentação no Teatro Glauce Rocha - Foto: Arquivo Pessoal

 Pés em primeira posição en dehors; preparatória: braços alongados em formato oval próximos aos membros inferiores; coluna reta; contrai glúteo e barriga, queixo erguido e cabeça na diagonal; 5, 6, 7, 8.

Ao pesquisar a frase “corpo que dança” no Google, veremos uma infinidade de imagens em movimento, vários estilos de dança, em grupos, duplas ou individuais. Mesmo na imensidão de possibilidades, uma semelhança é perceptível: corpos magros em sua maioria .

No entanto, notamos uma mudança na realidade do ballet e na dança em geral, que está abrindo espaço para a inclusão de diferentes tipos de corpos. Altos, baixos, magros, robustos, com diferentes cores de pele, idades e capacidades. O que por muitos anos foi considerado uma exceção, hoje é uma celebração da diversidade.

Juliana Sarti, 26 anos, é professora de dança há seis anos. Ela sempre teve o desejo de promover a arte e o amor pelo ballet, criando um ambiente onde todos se sintam confortáveis para dançar. Juliana observa uma mudança significativa nos corpos, especialmente no ambiente amador, em que a diversidade tem ganhado cada dia mais espaço.



Professora Juliana em sala de aula com suas alunas da turma de sábado - Vídeo: Denize Rocha


“Vejo que o ballet amador está mais abrangente e as pessoas de diversos corpos estão procurando as aulas. A internet ajuda nisso, pois bailarinas fora dos estereótipos compartilham suas rotinas e geram identificação com outras pessoas”, explica Juliana.

Ela destaca a diferença entre o corpo ideal de bailarinos profissionais e de amadores. Para os amadores, o mais importante é ter um corpo dançante e o interesse em evoluir. Já para os profissionais, existe um padrão físico buscado pelas companhias, que inclui uma estética magra, ampla rotação de quadril, flexibilidade e força. Entretanto, a professora observa que grandes companhias já estão aceitando corpos com mais curvas, indicando uma mudança gradual no cenário.

Juliana enfatiza que muitas pessoas ainda têm receio de iniciar no ballet por não se enxergarem no estereótipo ideal de bailarina propagado durante anos. “Sim, muitas pessoas têm receio de começar as aulas de ballet clássico por não acharem que têm corpo de bailarina por terem como referência o estereótipo propagado de corpo ideal,” diz ela. Contudo, a experiência de ensinar alunos com tipos físicos diversos tem sido gratificante, pois ela pode mostrar que o tipo físico não impede ninguém de dançar.

Juliana Sarti é bailarina profissional fora dos padrões - Fotos: Arquivo Pessoal


Para criar um ambiente mais inclusivo no ballet, Juliana acredita na conscientização sobre a diversidade de corpos e no estudo por parte dos professores para incluir esses alunos de forma respeitosa.

A dança, assim como outras expressões artísticas, exigiam padrões de beleza e habilidades que, por muito tempo, foram excludentes. O ballet clássico, por exemplo, era conhecido por suas regras extremas e classificações de corpo. Essa

mudança não é apenas estética, mas um reflexo de uma sociedade que está aprendendo a valorizar a diversidade em todas as suas formas.

Gabriela Cavalcanti, 26 anos, é psicóloga e começou a praticar ballet há um ano e meio. Suas primeiras impressões sobre esse ambiente foram positivas, especialmente em seu estúdio, onde há inclusão e integração de diferentes corpos. “Percebi uma boa aceitação da diversidade corporal. No estúdio onde faço aulas, vejo como há diferentes corpos, com a expressão da arte sendo valorizada acima de qualquer estereótipo,” afirma Gabriela.

Ela sente falta da representação de diferentes tipos de corpos no ballet, tanto em performances quanto na mídia. “Pelo que acompanho em redes sociais e mídias no geral, a diversidade corporal ainda é limitada e, embora esteja melhorando, acredito que é essencial mostrar que a beleza e a arte da dança não se restringem a um único padrão de corpo físico”, diz Gabriela.

Para o mundo do ballet ser mais inclusivo, Gabriela sugere aumentar a representação e inclusão de diferentes tipos de corpos nas performances de grandes companhias e na mídia em geral. Ela também acredita na importância de aulas adaptadas, que respeitem as limitações e explorem as potencialidades de cada corpo.

Essa inclusão tem um impacto significativo, que promove a acessibilidade e o respeito, não apenas no palco, mas também no cotidiano. Quando as pessoas veem corpos semelhantes aos seus, representados, isso pode gerar um sentimento de pertencimento e autoestima, além de desafiar as noções tradicionais de beleza e habilidade, mostrando que a arte é para todos, independentemente de suas características. Isso inspira novas gerações de bailarinos a seguirem seus sonhos, sabendo que há um lugar para eles no mundo da dança.

Aline de Oliveira, 22 anos, é analista de sistemas e pratica ballet há quatro meses. “Minhas primeiras impressões foram boas, pois eu não me senti excluída no ambiente e nenhum colega foi excluído”. Aline também sente falta da representatividade na mídia, apesar de observar uma diversidade crescente nas escolas de ballet comuns. “Na vida real, vejo que a diversidade aumenta cada dia mais, e creio que as redes sociais foram um ponto positivo para isso. Na mídia, sinto um pouco de falta de representatividade ainda”.

Para Aline, a conscientização sobre a diversidade corporal entre bailarinos, professores e diretores de escolas de dança é essencial para tornar o ballet mais inclusivo. Ela também enfatiza a importância de adaptar figurinos e equipamentos para acomodar diferentes tipos físicos e revisar normas estéticas para valorizar a diversidade.

Rafael Pereira Bolson, nutricionista especializado em clínica esportiva, destaca que a associação entre magreza e saúde é muitas vezes equivocada. “Hoje em dia, não importa como você atinge essa magreza, seja por uso de medicamentos, suplementos ou hormônios. O importante é você atingir esse status de magro(a), sem medir as consequências disso” .

Ele enfatiza que a dança, como qualquer tipo de movimento, é saudável e ajuda na prevenção de doenças. “Nosso corpo foi feito para se movimentar, nossos

braços e pernas têm a função de movimento. Todo tipo de modalidade que gera movimentos complexos, recrutando conjuntos musculares distintos, têm benefícios à saúde!”.

Rafael alerta para os problemas de saúde associados à busca pela extrema magreza, especialmente em dançarinos, como problemas psicológicos e deficiências nutricionais. Ele também ressalta a importância de uma boa relação com a comida e o acompanhamento com um nutricionista para manter um peso saudável sem comprometer a saúde.

Além disso, a orientação nutricional de especialistas é crucial para promover a saúde e o bem-estar dos dançarinos. A arte da dança, em sua essência, é uma forma de expressão acessível a todos, independentemente do corpo que a realiza.

O ballet está se tornando mais inclusivo, com um número crescente de pessoas de diferentes tipos físicos se aventurando na dança. Professores como Juliana e bailarinas como Gabriela e Aline são exemplos de como a diversidade corporal está sendo cada vez mais aceita e valorizada no mundo do ballet.

Mas a luta por um ambiente mais inclusivo nas danças está apenas começando. Escolas, professores e companhias precisam continuar trabalhando para garantir oportunidade e suporte para todos. Permitindo que essa arte continue a evoluir e a inspirar, mostrando que a beleza da dança não reside na uniformidade, mas na riqueza de suas diferenças.


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