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  • lauras05

Entre barras e preconceito

Maria Gabriela Severino Arcanjo e Fernanda Sá




Originalmente ligado ao Mallakhamb, uma espécie de Yoga executada em um poste de madeira, o Pole Dance é uma dança que explora movimentos do praticante junto a uma barra de aço fixa ou giratória. Nos anos 1920, essa modalidade começou a dar seus primeiros passos em direção ao que é mundialmente conhecido hoje. No Brasil, mais especificamente em Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, Nayara Freitas, de 29 anos, é professora de várias vertentes do Pole. Dentre elas o Sport, que trabalha mais o lado acrobático, o Flow, focado na coreografia e na flexibilidade do corpo, e o Exótic, o estilo “do salto alto”, que explora bastante a sensualidade do dançarino. Além disso, ela também ensina em seu estúdio, o Voart, tecido e lira acrobática. A instrutora conta que descobriu o Pole Dance em 2014, após passar por um relacionamento abusivo. Ela destaca que a dança recuperou sua autoestima e foi a única coisa que a fez ter vontade de sair de casa na época. “Cada coisa que eu via desse mundo das acrobacias, da arte, da dança, eu me apaixonava mais”. Um ano depois, a então estudante de psicologia, foi chamada para ser instrutora no estúdio onde era praticante. Em 2019, já formada e atuando na área da psicologia, decidiu abrir seu próprio estúdio de dança, o Voart. Foi aí que Nayara percebeu que não conseguiria conciliar as duas coisa se acabou optando pelo empreendimento, o qual é sua fonte de sustento até hoje.


Assédio


Embora essas modalidades tenham tirado Nay de uma fase ruim, ela expõe que nem tudo foi fácil. Logo quando começou a praticar sentiu na pele o preconceito e a sexualização e ainda mais após decidir ministrar aulas, “as pessoas têm essa dificuldade de entender que eu realmente consigo ganhar dinheiro com isso, sabe? E me manter”, pontua.

É o que a jornalista Isabella Motta, de 22 anos, também reclama. A comunicadora declara que deixou de postar fotos e vídeos praticando o Pole Flow em suas redes sociais por conta dos assédios que recebia. Junto a isso, ela diz sobre seu receio em relação à exposição, pela imagem que a sociedade tem desse tipo de dança, “tenho medo de não ser levada a sério na profissão”.

Kelly Peralta, professora de português e redação, de 22 anos, é aluna do Voart e pratica o Pole como atividade física regularmente desde 2019. Ela explica que deu início na modalidade com a intenção de trocar a academia por outro exercício. A pole dancer ainda detalha seu processo nesse meio “a gente precisa usar roupas muito curtas para fazer a aula, porque tudo ali depende do atrito que o nosso corpo, a nossa pele, vai gerar com a barra, então eu tinha muita vergonha [...] fui me desprendendo dessas amarras” e garante que a atividade a ajudou a se sentir mais empoderada.

No entanto, assim como Nayara e Isabella, a jovem também já teve que enfrentar muitas situações desconfortáveis. Kelly relembra um episódio que aconteceu em uma escola que trabalhou “no primeiro dia a coordenação me chamou [...] e pediu para eu apagar as coisas (seus registros em suas redes sociais pessoais praticando o pole) e para eu parar de postar”. Além disso, ela conta que, por conta da dança, já foi confundida com uma garotade programa e garante que não é a única, “é nojento você ser colocada nessa posição”. No entanto, apesar do estereótipo e da objetificação que sofre, a docente afirma que não pretende parar “[o Pole] me faz muito feliz”.

A fundadora do Voart menciona que é normal as dançarinas serem confundidas com “strip-teases” e que, diante de tantas dificuldades, ela procura mostrar para as pessoas que ainda vivem cercadas pelo preconceito, que o que fazem não passa de um esporte como qualquer outro. Já com suas aprendizes, ela salienta a importância do amor próprio, do respeito com seus corpos e do autoconhecimento, “uma aluna chega no primeiro dia dela por essa porta ela não vai sair mais a mesma pessoa”.

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