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Entre likes e críticas

Mídias sociais perpetuam estereótipos de beleza inatingíveis e pressionam jovens e influenciadores


Beatriz Saltão Pedroso e Roberta Martins de Freitas

A "ditadura da magreza" é um conceito que descreve a imposição de um padrão de beleza que glorifica corpos extremamente magros como sinônimo de saúde e sucesso. Esse ideal estético tem sido promovido por décadas e está profundamente enraizado em nossa cultura, moldando a maneira como percebemos e valorizamos os corpos.

As mídias sociais desempenham um papel essencial na perpetuação dessa ditadura e já se transformaram em fontes primárias de informações sobre dietas e perda de peso. Na plataforma TikTok, por exemplo, a hashtag #WeightLoss (perda de peso) é uma das mais procuradas, com muitos conteúdos que promovem métodos de emagrecimento rápidos, perigosos e sem embasamento científico.

Agora, em 2024, a moda de ser super magra voltou com força total. Celebridades como Kim Kardashian e a cantora Maiara perderam peso drasticamente e trazem de volta o culto ao corpo magro. A calça de cintura baixa, um ícone dos anos 2000, também retornou às tendências e reacende a pressão perigosa e implacável por corpos esguios. Este ressurgimento levanta a questão: será que essa pressão insalubre algum dia realmente saiu de moda?

A obsessão pela magreza nunca desapareceu completamente, mas ganhou nova força com a popularização das mídias sociais. Assim, intensificam a pressão sobre os usuários para se conformar a padrões de beleza inatingíveis.


O peso dos comentários


Mariely Barros, influenciadora digital, enfrenta os desafios e pressões das redes sociais sobre aparência e autoimagem


Em um mundo onde a aparência muitas vezes dita o valor de uma pessoa, as redes sociais se tornaram um campo minado, especialmente para aqueles que se encontram na linha de frente da criação de conteúdo. Mariely Barros, influenciadora digital no início de carreira, conhece bem os desafios e pressões dessa exposição.

Mariely começou sua jornada nas redes sociais ainda na adolescência, inspirada pelas criadoras de conteúdo que acompanhava no YouTube. "Na época, eu tinha 15 anos e acompanhava algumas influenciadoras. Foi ali que surgiu a vontade de me dedicar à criação de conteúdo, mas eu não tinha domínio das técnicas, como edição de vídeo, e não tinha um celular bom. Então, para mim, era impossível começar a gravar. Hoje, vejo que não é bem assim; vejo que podemos começar a gravar conteúdo com o que temos”. Apesar das dificuldades iniciais, Mariely sempre gostou de compartilhar sua rotina, e isso a levou a transformar essa paixão em uma fonte de renda no Instagram e no TikTok.

Depois de se tornar influenciadora, a pressão para manter uma aparência idealizada é uma realidade para Mariely. Essa imposição vem, principalmente, quando seus vídeos viralizam e saem de sua “bolha”. Ela relata um episódio em que recebeu comentários ofensivos sobre seu peso após um vídeo alcançar grande audiência. "Alguns dos comentários eram sobre o meu peso. Comentários como 'o que afasta homem não é você ser negra, é você ser obesa' e 'o que afasta homem é mulher gorda' apareceram, entre outros". Ela apagou alguns desses comentários para proteger não apenas a si, mas também outras mulheres que poderiam se sentir ofendidas. "Você não tem controle sobre o que as pessoas vão comentar... Você se expõe como um pedaço de carne para as pessoas opinarem se você é isso ou aquilo".




MARIELY


As redes sociais influenciaram profundamente a percepção de Mariely sobre seu corpo. Aos 15 anos, ela consumia conteúdos de influenciadoras magras, o que impactou negativamente sua autoimagem. "Às vezes, uma influenciadora muito magra fala que está gorda, flácida, horrível, e você olha para a barriga dela e pensa: 'Nossa, se essa mulher está gorda, eu estou o quê?'". A pressão para ser bonita como as influenciadoras a levou a dietas extremas na juventude. "Hoje em dia, há uma pressão para levar uma vida saudável... Fico sempre pensando que poderia estar fazendo mais exercícios, pedalando, fazendo outra coisa... Poderia estar me exercitando mais, emagrecendo mais, fazendo mais atividade física, comendo menos".

Mariely admite que ainda não encontrou uma estratégia para tornar mais saudável sua relação com a autoimagem e as redes sociais. Ela ainda se sente pressionada a usar filtros que modificam seu rosto para se sentir mais confiante. "Eu não consigo gravar um story sem utilizar um filtro. Muitas vezes, eu quero aquele filtro que deixe o rosto mais magro, menos inchado, com menos olheira. E uma coisa que me incomoda muito é a minha papada".

A insegurança leva Mariely a evitar ângulos que a façam parecer "gorda demais". Ela não edita suas fotos para parecer mais magra, mas sente dificuldade em expor seu corpo real por medo dos comentários negativos. "Eu acho meu peito muito grande, por exemplo, então eu não tenho essa liberdade de expor um decote um pouco maior e aparecer assim na internet ".


Em busca de corpos semelhantes


A ditadura da magreza, realidade perpetuada pelas redes sociais, afeta a autoestima e a percepção corporal de muitas pessoas. Uma dessas pessoas é a Emily Lima, mulher gorda, que passou por um processo de aceitação e compreendeu a importância de seguir pessoas com corpos semelhantes ao seu para construir uma relação mais saudável com sua imagem.

Emily lembra um período em que, apesar de seguir influenciadores body positive, a influência negativa das redes sociais era inevitável. "Ano passado, eu trabalhava em um lugar onde todo mundo estava numa vibe muito academia, e acabei entrando para a academia também. Não para emagrecer, porque hoje eu estou de boa; se emagrecer, tranquilo; se não emagrecer, também tranquilo. Mas, ao consumir conteúdos de exercícios no TikTok, o algoritmo mudou e comecei a ver muitos conteúdos sobre perda de peso. Parei e pensei: 'Isso está meio errado'”.

Ela enfatiza que, mesmo com uma alimentação saudável e um estilo de vida ativo, a toxicidade dos comentários em vídeos de exercícios e dieta pode poluir a mente. "Quando você abre os comentários de certos vídeos sobre exercícios, alimentação saudável, dieta, você se depara com muitos comentários completamente negativos, até tóxicos, de pensamentos de pessoas. Aquilo começa a te poluir de novo".

 Para contrabalançar essa negatividade, Emily recomenda seguir influenciadores que compartilham um corpo e um estilo semelhantes ao seu. "Procure pessoas parecidas com o seu corpo. Isso influencia muito na forma de encontrar roupas que encaixam melhor no seu estilo. Não é só qualquer pessoa gorda; procure pessoas parecidas. Os influenciadores que me ajudaram bastante foram a Raissa Galvão e a Isabella Trad. Elas falam muito sobre autoimagem e aceitação corporal”.




Emily também destaca a importância de influenciadores que abordam temas além do body positive, como moda e maquiagem, que refletem seu próprio estilo. "A Catarine Freire me chamou atenção por ter um rosto e um corpo parecidos com os meus. As roupas que ela usa e os cortes de cabelo são exatamente o que estou buscando atualmente".

A jornada de aceitação de Emily inclui um processo terapêutico iniciado em 2018, que foi fundamental para desvincular a necessidade de aprovação externa. "Na terapia, aprendi a ver beleza em mim e a ajustar o conteúdo que consumo. Buscar influenciadores com corpos semelhantes ao meu ajudou muito na minha autoestima".

Finalmente, Emily compartilha como escolhe as pessoas que segue nas redes sociais, priorizando aquelas que inspiram e refletem sua realidade e interesses. "Gosto de seguir designers, poetas e pessoas que mesclam arte com outras formas de expressão. Em relação à moda, sigo pessoas que me inspiram na forma de vestir, que tenham um corpo parecido com o meu ou um estilo semelhante".

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