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ABANDONO: Espaços públicos de Campo Grande são negligenciados

Apenas 6% das praças possuem metade das estruturas necessárias e revelam descaso e abandono com a população e a história da cidade


Texto e imagens: Fernando de Carvalho


Belmar Fidalgo se destaca no meio de tantas praças e parques abandonados


Há apenas de 400km do coração do Pantanal, maior planície alagável e um dos biomas com maior biodiversidade do mundo, Campo Grande se destaca pela sua arborização. A cidade é tricampeã do programa Tree Cities Of The Word, programa das Nações Unidas que premia as cidades que mais se destacam no mundo pela arborização.

No entanto, no meio de ipês e figueiras centenárias, o abandono de espaços públicos vem se destacando na Cidade Morena, principalmente em praças e parques.

De acordo com o arquiteto e urbanista Fayez José Rizik, praças e parques são fundamentais para a vida urbana. “Foi realizado um congresso de urbanismo em Atenas na década de 30, que marcou a história do urbanismo no mundo. E no congresso foi dito que as cidades precisam de áreas de lazer, as pessoas precisam ter lazer, chega uma hora que você precisa se divertir, e uma das funções das praças e parques é essa. E hoje você tem uma outra função que é a questão do meio ambiente. E a preservação de natureza de espaços reservados".

Um dos maiores problemas enfrentados por Campo Grande é a manutenção desses espaços. Muitas praças são apenas terrenos vazios com poucos equipamentos e são mal conservadas. "Você tem muitas praças na cidade, mas que simplesmente são um espaço lá. Bota um banquinho, uma pista e dizem que aquilo é praça", comenta o arquiteto, ressaltando a superficialidade com que esses espaços são tratados.

A fala de Fayez é corroborada por dados da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb). Em 2021, a Agência realizou o diagnóstico das Praças Oficiais de Campo Grande. Foram identificadas 148 praças oficiais na Capital, no entanto, apenas nove possuem, ao menos, metade dos 23 equipamentos/estruturas identificadas pela prefeitura. O restante, nem isso.

Exemplo de praça que não possui estrutura alguma - Fonte: Planurb


Além da falta de infraestrutura, a segurança é outro fator crítico que afeta a utilização dos espaços públicos. A ausência de vigilância e a prevalência de atos de vandalismo desencorajam os moradores a frequentarem essas áreas. "Chega lá uma quadra de basquete e de repente a tabela de basquete já está quebrada, e isso acontece porque o estado não se interessa em preservar o local", pontua Rizik.

Esse cenário ocorreu na Praça Presidente Médici, localizada no Jardim São Bento. Morador do bairro desde quando se mudou para Campo Grande, há 13 anos, Lucas Coninck aponta que não consegue realizar seu hobby no local. “A praça é boa, movimentada às vezes, boa para caminhar, mas eu amo basquete, jogo há nove anos, e apesar da quadra ser poliesportiva, roubaram as cestas da quadra e aí ficou inviável de jogar”.

Cestas de basquete na Praça Médici foram furtadas


Os moradores da região se uniram e colocaram uma nova cesta no local, mas durou pouco tempo. “Não durou nem três dias porque ela foi furtada novamente. Pra jogar basquete agora é só no Parque das Nações ou no Belmar Fidalgo”, lamentou Lucas.

A falta de manutenção e equipamentos em praças implica até a mobilidade urbana da cidade, tendo em vista que os moradores são obrigados a se deslocar para áreas mais distantes para encontrar espaços de lazer adequados, aumentando o tráfego e sobrecarregando o sistema de transporte público já deficiente.

"Mobilidade urbana não é só o veículo, a mobilidade urbana começa na calçada. Se você não tem uma calçada adequada, você está impactando mobilidade urbana. Se você não tem uma praça adequada, você está impactando mobilidade urbana, porquê você obriga a pessoa a ir num lugar distante, e ela vai ou a pé, ou de carro, ou de ônibus, então é um deslocamento desnecessário que seria evitável se as praças não tivessem abandonadas pelo poder público”, afirmou Fayez.

Uma Parceria Público-Privada (PPP) pode ser uma das soluções para resolver o problema de abandono de praças e parques.             Um dos exemplos é a Praça Belmar Fidalgo, uma das nove praças que possuem metade das estruturas necessárias, onde empresas ajudam na conservação do local. “O Belmar antigamente era o estádio municipal, até o Rei Pelé jogou nele. E há alguns anos, existia na prefeitura a PPP das praças, a parceria do Belmar entrou nessa época, e é uma alternativa boa. A área de Campo Grande é muito grande, então é muito gasto para a cidade, não estão dando conta nem de varrer a cidade”, comentou o arquiteto.


A Belmar Fidalgo é uma das praças com maiores estruturas de Campo Grande. Fonte: Planurb


Os moradores da região elogiam a estrutura da praça esportiva, como é o caso do estudante Bernardo Schroden de Paula. “Frequento a Belmar há 15 anos, e é um local muito completo. Já fui para jogar basquete, caminhar, para jogar futsal, até correr na areia já fui devido à estrutura. Acho muito bom, tem muita coisa para fazer, tem espaço para criança, espaço para adultos, para todo mundo”.

A apropriação e a identificação das praças pelos moradores locais também pode reverter a questão do abandono, segundo o arquiteto Fayez Rizik. “No bairro Carandá Bosque temos o Bosque da Paz, onde é realizado aquela famosa feira. É uma quadra imensa, mas só tem árvore, no meio da semana não temos ninguém lá. O campo-grandense por natureza é fechado, então muitas vezes as pessoas preferem se trancar dentro de casa do que ir para parques. Se a população se identificar com o parque, se apropriar dele, muitas vezes eles mesmos conservam o local”.


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