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Fanatismo religioso é uma limitação

A influência das crenças cristãs em políticas públicas interfere negativamente na vida dos cidadãos LGBTQIAPN+


Texto e fotos: Brunna Brondani, Gabriel Barbosa e Mariana Viana



“É uma merda, literalmente, eu estou cansado de pastores na minha vida” disse Be dos Santos, de 20 anos, sobre a utilização da fé cristã para reduzir direitos da comunidade LGBTQIAPN+. Be, homem trans, tem sua identidade de gênero ignorada por sua família e é cotidianamente pressionado por seu primo pastor para passar pela ‘’cura gay’’. Assim como ele, muitos brasileiros sofrem com a opressão baseada em preceitos religiosos.

Fundamentalismo religioso é o termo que denomina essa intolerância. Refere-se a uma corrente de pensamento em que pessoas utilizam sua fé, baseada em princípios de textos sagrados, como a Bíblia neste caso, para se oporem a outras crenças, à ciência e às diversidades da existência humana. Um exemplo é a população LGBTQIAPN+, que por não seguir os mesmos ideais dos fundamentalistas é transformada em inimiga ou submetida a um processo de conversão.



O sociólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Aparecido Francisco dos Reis, explica o comportamento alienado causado pelo fundamentalismo cristão. “O fundamentalista não consegue fazer essa leitura contextualizada de um preceito sagrado. Então ele entende que aquilo deve ser aplicado, sem exceções, para todo mundo, e não apenas para ele, que é o seguidor daquela religião”.

Esse fanatismo foi sentido por Jéssica Medeiros, de 21 anos, que foi afetada pela intolerância. Sua história quando “se assumiu” lésbica para sua família foi marcada por desaprovação. Eles a reprimiram, principalmente sua avó, que chegou a dizer para a jovem que sua orientação sexual “não é algo que agrada a Deus, não é o certo”. Jéssica também relata que está inserida em um contexto em que as pessoas têm um conhecimento limitado em relação ao tema, propagando ainda mais o preconceito.







Além do âmbito social, esses discursos se estendem para o âmbito político. Recentemente, o Brasil teve um exemplo disso. O mandato de Jair Messias Bolsonaro era pautado em ideais fundamentalistas, seu principal slogan era “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Como resultado dos seus quatro anos na Presidência, houve um aumento de 26% no número de candidatos que usam denominações evangélicas, em comparação com 2018, segundo levantamento feito pelo site Poder360. Eles formam uma bancada evangélica numerosa, que cada vez mais tem trazido projetos que colocam em dúvida a laicidade do Estado.

Um deles, é o Projeto de Lei (PL) 580/07, que busca proibir o casamento homoafetivo e foi apresentado à Câmara pelo deputado Pastor Eurico (PL-PE). Ele foi aprovado no dia 10 de outubro pela Comissão de Previdência e Assistência Social da Câmara. Antes mesmo de passar por todas as instâncias, o PL já causa indignação em membros da comunidade LGBTQIAPN+.



José Alves de Queiroz, de 53 anos, está há 23 anos com seu marido e casado no civil há apenas três. Ao ser indagado em relação ao fundamentalismo presente na política, ele expõe a contradição do PL. “Eles têm que basear as leis na Constituição, não na religião. Se aprovarem uma lei baseada na religião estão indo contra a Constituição brasileira”. Jéssica apresenta uma opinião complementar. “É como se estivessem interferindo em um direito, em uma vontade, em um sonho de continuar algo que é normal, mas é como se dependesse de outras pessoas”.

O Brasil está repleto de Bes, Jéssicas e Josés, que são afetados constantemente por preconceitos pautados no fundamentalismo cristão, nos âmbitos social, político e de direitos básicos. Segundo o sociólogo Aparecido dos Reis “eles têm todas as obrigações que todos os cidadãos têm, como por exemplo, pagar impostos, seguir as leis, mas não têm os mesmos direitos”, o que cria uma situação de subcidadania para essa população.


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