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Febre dos remédios

Altas temperaturas podem comprometer medicamentos e causar efeitos adversos


Bruna Gomes de Melo e Camille Rosa Filetto Duarte


Na bula há a orientação de todos os cuidados que devem ser seguidos pelo paciente. (Foto: Camille Duarte)


Entre as letras miúdas e as longas páginas das bulas que acompanham os remédios, encontra-se uma recomendação importante sobre os medicamentos: “conservar em temperatura ambiente (entre 15 e 30ºC); proteger da luz e umidade; guardar em sua embalagem original; caso ele esteja no prazo de validade e você observar alguma mudança no aspecto, consulte o farmacêutico para saber se poderá utilizá-lo”. Mas nos últimos meses com a extrema onda de calor no Brasil, a temperatura ambiente não é a mesma.

É muito comum ter em casa aquela caixinha de remédios, popularmente chamada de “farmacinha”, geralmente armazenadas em armários da cozinha ou até mesmo do banheiro. É assim que a estudante Ana Krasnievicz, 24 anos, guarda seu anticoncepcional injetável. Por ser uma substância oleosa, ela prefere não guardar em um local refrigerado como a geladeira, pois tem medo de que a substância endureça.

A farmacêutica Amanda Brito explica que a melhor forma de armazenar medicamentos no calor é em locais frescos, longe da luz direta do sol e evitar deixá-los dentro de carros ou lugares expostos ao calor, e se possível fazendo uso de refrigeradores ou de locais com ar-condicionado. Essa preocupação com a perda de eficácia aumenta quando se trata de remédios de uso contínuo que previnem certas condições, como pressão alta e anticoncepcionais, especialmente os orais.

Amanda diz que caso haja exposição a uma temperatura mais elevada, principalmente em períodos mais longos, é possível que os comprimidos tenham sua eficácia comprometida, podendo ficar moles ao ponto de esfarelar, o que torna possível que a dose total não seja ingerida, isso porque essa exposição não só ao calor, mas também à umidade pode alterar suas estruturas físico-químicas.

A farmacêutica acrescenta que no caso de remédios afetados, alguns sinais podem ser indicadores como alteração na cor, odor, consistência e que em situação de dúvida em relação a medicação, recomenda-se consultar um farmacêutico, pois essas doses podem causar até mesmo reações de intoxicação, em que sintomas como náusea, vômitos, tontura, confusão mental e outros podem aparecer.

Existem remédios que necessitam da refrigeração, como a insulina, que é transportada com muito cuidado pelo Nivaldo Ribeiro, desempregado de 57 anos e diabético que, mesmo antes das ondas de calor, transportava as doses em uma caixa de isopor com gelo para guardar imediatamente na geladeira.

O mesmo caso acontece com Rineva Dias, 21 anos, estudante e usuária de dois tipos de insulina, uma de ação rápida após cada refeição e outra de ação de 24 horas. Para retirar seus remédios, assim como Nivaldo, ela precisa levar uma bolsa térmica com gelo para colocar todas as insulinas e assim levá-las para casa. A jovem relata que, no dia a dia, carrega sua medicação de ação rápida na bolsa, pelo tipo de insulina ser uma caneta descartável, podendo ficar em temperatura ambiente. “Diferente da farmácia que você compra, não precisa ter nada, você pode pegar a insulina e pronto. Lá no Centro Especializado Municipal [CEM], se você não tiver com a bolsa térmica, você não consegue pegar a insulina, porque eles não dão”, comenta Rineva.

No dia 23 de outubro de 2023, os termômetros de Campo Grande registraram um recorde de temperatura na capital, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a cidade morena teria atingido 39,4°C, quase 10°C a mais que a temperatura ambiente indicada nas bulas, por isso recomenda-se uma atenção redobrada com o armazenamento de remédios.

O médico cardiologista Aezio Magalhães comenta que a principal consequência do uso da medicação comprometida por altas temperaturas é a perda de eficácia dessa medicação, pois terá alteração da composição e consequentemente perdendo sua eficácia, não fazendo o efeito para o qual ela foi feita.

O risco do uso dessa medicação comprometida, alerta o cardiologista, é principalmente no sistema cardiovascular e gástrico. Assim como também explica a farmacêutica Amanda, o médico também avisa que dependendo do medicamento e da dose usada, há o risco de intoxicação, gerando sintomas gerais e variados como náuseas, tonturas, dor de cabeça e quando o remédio é ingerido oralmente, sintomas gastrintestinais também surgem, como dor abdominal, diarreia e vômitos. “As consequências também variam, são inúmeras e variam desde as mais leves até as mais graves”, alerta Aezio.

O médico também comenta que há uma piora no quadro patológico pelo fato da medicação provavelmente não fazer o efeito esperado, assim, não tendo o tratamento adequado da condição para qual aquele medicamento foi empregado e gerando possíveis efeitos adversos.


Checklist do armazenamento correto de medicamentos:

  1. Conservar em temperatura ambiente entre 15 e 30ºC.

  2. Proteger da luz e umidade (Não guardar no armário do banheiro, dentro de carros ou lugares expostos ao calor).

  3. Guardar em sua embalagem original.

  4. Observar a cor, o odor e a consistência do remédio antes de tomá-lo.

  5. Em épocas de altas temperaturas, se possível, usar refrigeradores ou locais com ar-condicionado para guardar seus remédios.

Em caso de suspeita de intoxicação, procure um médico imediatamente e leve a embalagem do medicamento.


Ondas de Calor

De acordo com o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (CEMTEC MS), uma onda de calor ocorre quando em um intervalo de pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5ºC ao valor médio diário no período de referência. Devido a atuação de uma alta pressão atmosférica, aliada a atuação do fenômeno do El Niño, as ondas de calor se amplificaram no país.

Segundo o Inmet, essas condições climáticas podem impactar a saúde de toda a população, em especial os mais vulneráveis — como idosos, crianças, pessoas com problemas cardíacos, respiratórios ou de circulação, diabéticos e gestantes. Os principais sinais de alerta são transpiração excessiva, fraqueza, tontura, náuseas, dor de cabeça, cãibras musculares e diarréia.


(Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia)

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