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Geração Z e a construção da Ágora digital

Jovens sul-mato-grossenses se politizam utilizando a Internet e relatam dificuldades em defender posicionamentos políticos divergentes


Ana Lorena Franco e Mariana Azevedo


A comunicação acompanha a democracia desde o seu surgimento na Grécia Antiga, quando os cidadãos gregos se reuniam em praças públicas chamadas Ágoras para debater e tomar decisões políticas. Na democracia moderna, a internet se tornou esse espaço de socialização, principalmente entre a juventude engajada nas pautas sociais.

É importante ter essa análise histórica para entender o fazer político atual, principalmente pela inclusão de novos grupos sociais a partir do uso de diferentes mídias. A interação do governo com a sociedade por meio do ciberespaço, para debater e decidir questões de interesse comum, amplia a voz dos indivíduos e está no contexto de uma democracia digital. Jovens de 16 a 24 anos são os que mais utilizam a internet, de acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018.

A pesquisa “Juventude e democracia na América Latina” de 2022, encomendada pela Luminate, mostra que os jovens começaram a adquirir consciência política ao ver comentários nas redes de pessoas que seguem ou influenciadores que gostam. “A política tem que saber traduzir sua mensagem para esse público [jovens]”, afirma o ativista pelos Direitos Humanos e Ambientais Jean Ferreira, 24 anos, sobre a adequação da linguagem política para os meios digitais.

Beatriz Luzia, estudante de Pedagogia, de 20 anos, se identifica com os ideais de esquerda, sendo grande parte dessa escolha vinda de sua criação. “Desde pequena eu fui criada dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), dentro das ideologias do PT e eu cresci no Movimento Sem Terra (MST). É algo vivo em mim”. Beatriz possui também um canal no Youtube, onde dedica postagens de viés político, mas afirma ter diminuído a intensidade de suas atividades devido a ataques e discursos de ódio. “Tive que tirar alguns vídeos do meu canal do Youtube por conta dos comentários”, relata a jovem.

O estudante de Sistemas da Informação, Erick Santos, de 18 anos, se define como um jovem de direita e também afirma que usa as redes como meios de expor sua opinião política. Diferentemente de Jean Ferreira, o estudante não costuma entrar em debates diretos com seus amigos, mas presta apoio no engajamento de postagens que estejam alinhadas aos seus ideais através do X (Twitter) e Youtube. “Geralmente, conversamos sobre eventos ou situações específicas que ocorrem e, a partir disso, surgem diversas opiniões entre o grupo de amigos”, conclui.

A tendência da cultura do cancelamento na Internet de atacar virtualmente usuários que defendem questões supostamente inapropriadas na sociedade é um receio unânime e cada vez mais evidente. Esse espaço é feito através de algoritmos que, seja para o bem ou para o mal, aumentam a visibilidade para determinados assuntos que entram em pauta nas discussões públicas. "A nossa geração nasceu com alguns direitos garantidos que a geração passada não tinha. Questões que não se falavam antigamente como saúde mental, ambiental, a luta contra opressões como machismo, racismo, LGBTfobia são mais discutidas hoje em dia", afirma o militante Jean Ferreira.


Qual a opinião dos políticos?


A direita e a esquerda política sempre existiram, sendo resultado de uma sociedade de classes, marcada por ideais diferentes entre os indivíduos em âmbitos políticos e sociais. “A esquerda, historicamente, é associada a setores progressistas, geralmente com o discurso mais voltado para a igualdade, enquanto a direita, tradicionalmente, faz a defesa da liberdade”, explica Daniel Miranda, doutor em Ciências Políticas e professor do curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). O vereador mais jovem da capital sul-mato-grossense, Claudinho Serra, de 32 anos, se identifica com os ideais de centro-direita e diz que as pessoas tomaram consciência da importância da politização, sendo que os jovens estão à frente disso. Porém, o aumento de fake news e fontes duvidosas são um empecilho para a discussão política no meio digital ser feita de forma respeitosa e justa. “O ímpeto de ser jovem, de acessar uma informação e já tirar sua conclusão, às vezes pode soar de maneira negativa. O jovem deve sim ter opinião, mas tem que ser mais responsável nelas”, opina o vereador.

A deputada federal, Camila Jara, de 28 anos, uma das mais jovens eleitas no país, segue os ideais políticos de esquerda e compartilha o mesmo pensamento. Ela acrescenta que a aproximação de questões políticas nas mídias digitais de nada adianta se não houver um debate respeitoso entre aqueles que possuem divergências de opinião. “Se for para a gente escutar o outro lado e tentar encontrar uma solução no meio termo, vale a pena entrar em debates, mas se for só para reforçar nossa opinião e fazer com que a política vire uma guerra digital, a gente acaba enfraquecendo os espaços de debate”, complementa.


Lados paralelos


Segundo o cientista social Daniel Miranda, a polarização política é, com muita frequência, induzida pela presença de grupos ou de lideranças políticas que exploram as distinções entre os ideais de esquerda e direita. Por isso, ela é caracterizada pela distância máxima entre grupos políticos, onde um não enxerga o outro como um simples adversário, mas como um inimigo que precisa ser eliminado. “Esquerda e direita tem a ver com a estrutura da sociedade, mas nem toda disputa entre os dois é, necessariamente, polarizada. O grande marco [da polarização] seria o Brexit no caso da Europa, a vitória do Trump nos Estados Unidos e a vitória do Bolsonaro aqui no Brasil”, explica o professor.

Apesar de muitos jovens terem nascido nesse cenário polarizado, é também responsabilidade deles, como cidadãos, adquirir consciência política, pois são a nova geração de agentes sociais do país. "Todo mundo já escutou a frase 'o jovem é o futuro do Brasil', mas a gente não é o futuro, a gente é o agora" garante Camila Jara, que assumiu a vice-presidência da Frente Parlamentar em Defesa da Juventude, reinstalada no dia 26 de outubro de 2023.

Para que se estabeleça uma relação política segura e com a participação de toda a sociedade, a politização da juventude deve ser estimulada em todos os espaços sociais e, não apenas no meio virtual, de forma consciente, entendendo as consequências de seus posicionamentos. Isso porque, jovens envolvidos com a política são o resultado do caráter participativo de um país democrático e de direito.


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