top of page
  • lauras05

História e reconstrução


Memórias da rua mais importante da cidade morena


Ariane Vilharva e Roberta Dorneles




Rua 14 de Julho atualmente/ Foto: Roberta Dorneles


Eu nasci há 114 anos, me estendo desde o Cemitério Municipal Santo Antônio, ao sul, até a Avenida Mascarenhas de Moraes, ao norte, sendo uma das ruas mais largas e retas de mão única que compõem o núcleo central de Campo Grande. Foi antes da ferrovia que o vereador Miguel Garcia Martins,em homenagem à queda da Bastilha, na França, que ocorreu em 14 de julho de 1789, propôs o meu nome, já que antigamente me chamavam apenas de beco, porque eu era apenas uma trilha deserta, curta e sem saída. Embora um trecho já existisse desde a década de 1920, minha ocupação comercial ocorreu em um período muito mais recente, especificamente na década de 1970. Naquela época, o comércio estava concentrado apenas no quadrilátero central (retângulo formado geograficamente pelas avenidas Mato Grosso, ao norte, e Calógeras, ao oeste, e pelas ruas 26 de Agosto, ao sul e José Antônio Pereira, ao leste) da cidade morena. Até então, a região consistia principalmente em prédios residenciais de um andar e muitos terrenos vazios, evidentes pelas transformações de casas antigas em escritórios, lojas, garagens e oficinas, ou pela presença de novos prédios construídos especificamente para atividades comerciais, com características modernas .As poucas casas residenciais sobreviventes são meros resquícios do passado, representando o tempo em que a área só era utilizada para fins residenciais e não havia nenhuma construção recente com essa finalidade.

Durante o passar das décadas me tornei o coração comercial da área central de Campo Grande. Quem acompanhou o meu desenvolvimento e crescimento vê que só restam as muitas lembranças deixadas na memória. Atualmente, com mais de 250 estabelecimentos comerciais e, em menor número, edifícios residenciais, ainda guardo vestígios de quando comecei a receber os primeiros comerciantes. Recebo as manifestações públicas, mas elas se restringem apenas a desfiles cívicos e militares. No entanto, sou um motor econômico importante para Campo Grande, pois minhas quadras concentram um comércio típico de ruas centrais das cidades brasileiras, voltado para atender toda a população. É possível encontrar lojas de roupas, sapatos, laboratórios fotográficos, óticas, além de móveis, colchões, lanchonetes e restaurantes. Toda essa movimentação contribui para a dinamização da economia local. Fiquei tão importante, que minha história está no livro A rua e a cidade – Campo Grande e a 14 de julho, do escritor Antônio Firmino de Oliveira Neto.


Reviva Centro O Reviva Centroé um projeto que visa revitalizar o centro de Campo Grande,por meio de diversas ações, tais como o embutimento da fiação, o aumento das calçadas, a criação de espaçosde lazer e a reorganização do trânsito nas proximidades do coração comercial da cidade morena. De acordo com o planejamento da prefeitura, a obra realizada tem como objetivodevolver a via aos pedestres e torná-la menos percorrida por carros. Com essa proposta, a expectativa é de que as pessoas tenham uma experiência mais agradável ao realizar suas compras,caminhando tranquilamente pela rua, sem competir por espaço com os veículos.Para isso, foram instaladas ilhas de descanso, equipadas com assentos, lixeiras especiais e outros móveisque visam garantir o conforto e o bem-estar dos moradores. O projeto também conta com algumas inovações, dentre as quais está a instalação de rede de wi-fi em toda a via e câmeras de segurança em cada quadra. Esses recursos visam garantir a segurança e a conectividade dos cidadãos que transitam pelo centro da cidade, proporcionando assim uma experiência ainda melhor de convívio e lazer. Atraso do Reviva Por outro lado, durante as obras, comerciantes do centro afirmaram que amargam prejuízos com a reconstrução na quatorze, e 35 lojas fecharam, contabilizando queda no movimento e nas vendas. Ainda lutando para se reerguerem após o período das obras e de incertezas causado pela pandemia, os comerciantes do centro ainda enfrentam grandes desafios para manterem seus negócios em funcionamento até os dias de hoje. Ambos os acontecimentos impactaram profundamente o comércio local, deixando muitos negócios em situação financeira instável e desestabilizando a economia da região. “A ideia era boa, mas não era o melhor momento para executá-la” disse um dos pequenos comerciantes da quatorze. No entanto, apesar das dificuldades, os comerciantes estão determinados a seguir em frente e a recuperar o tempo perdido, buscando novas estratégias para atrair clientes e melhorar as vendas. Com criatividade e resiliência, eles esperam superar essa crise e retomar o crescimento de seus negócios.


Movimento para os bairros


Salas para alugar na rua 14 de Julho/foto: Roberta Dorneles


Percorrendo com atenção as principais ruas de comércio do centro de Campo Grande, incluindo a 14 de Julho, é possível notar a presença de muitas placas de aluga- se indicando o fechamento.

“O encerramento de atividades nas lojas tem sido influenciado por uma série de fatores, incluindo o elevado valor dos aluguéis, as reformas no centro da cidade e a pandemia. É perceptível que, logo após o término das obras no centro, muitos lojistas fecharam as portas ", citou uma comerciante que trabalha no Centro há cinco anos na loja Color Zoom Photo e Óptica.

Outro motivo citado pelos lojistas que contribui para a ausência dos comerciantes no centro está ligado ao aumento no número de lojas abertas nos bairros de Campo Grande. Com a variedade de produtos disponíveis próximo às residências dos consumidores, a vontade de transitar do bairro ao centro já não é a mesma de antes. “A maioria dos comerciantes está indo para os bairros. Um aluguel pode ser de R$ 5 mil, mas em lojas grandes pode chegara R$ 45 mil” declarou Victor Kochi, gerente da Casa Das Flores. A maioria dos empresários aponta a pandemia e as reformas no centro da cidade como as causadoras das saídas de comerciantes do centro.


Ponteiro de Campo Grande



Feito de alvenaria, com quatro faces do relógio de ponteiro e 5 metros de altura, o monumento histórico original de Campo Grande foi erguido 1933 na 14 de Julho, representando o marco zero da cidade. É considerado um monumento símbolo de progresso, ponto de referência de encontros políticos, desfiles cívicos, passeatas e manifestações culturais. No entanto, com o passar dos anos, após um aumento significativo na população no centro da cidade, a estrutura foi demolida em 1970 pela prefeitura devido ao aumento no fluxo de veículos na área central.

Relógio sendo demolido em 1970/ Foto: Arca

Em 2019, junto com o projeto de revitalização da quatorze, uma reconstrução do relógio histórico foi realizada no local exato onde o relógio original foi erguido. Esse feito só foi possível graças às escavações realizadas durante as obras de requalificação da Rua 14 de Julho. Durante esse processo, os operários descobriram a base original do relógio que foi utilizada para a sustentação da nova estrutura, porém projetado de forma moderna. Hoje o relógio é digital, com perfis metálicos que reproduzem todos os detalhes do relógio original. A estrutura é totalmente vazada, visualmente leve, mas ao mesmo tempo forte em seu simbolismo.


Relógio revitalizado após o reviva/foto: Roberta Dorneles

Após quase três décadas da demolição do relógio, diversos ativistas culturais reivindicaram a importância do monumento, defendendo que o relógio fazia parte de nossas lembranças mais profundas, de nosso passado, de nossas origens e que era necessário resgatá-lo, trazê-lo de volta ao coração de Campo Grande. Portanto em 2000, para comemoração dos 100 anos da emancipação da cidade, uma réplica do monumento foi erguida no canteiro central do cruzamento da rua Calógeras com a avenida Afonso Pena, em homenagem ao antigo relógio, idêntica à original com seus 5 metros de altura e feita também de alvenaria.

50 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page