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La Maestra Viajera

Márcia Gomes é professora na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul desde 2003, e sua jornada curricular é tão extensa quanto seu passaporte


Brendha Luisi e Letícia Furtado


Márcia Gomes Marques (Foto: Brendha Luisi)


Exigente. Rigorosa. Metódica. São adjetivos usados pelos alunos da professora Márcia Gomes para descrevê-la. Ela é docente titular do curso de Jornalismo há quase 20 anos e estava presente na Comissão do Projeto Pedagógico que deu início ao curso de Audiovisual na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Mas qual a história por trás de tamanha exigência? 

Engana-se quem acha que os textos de Mauro Wolf, autor de “Teorias da Comunicação”, foram sua primeira opção. Márcia fez um ano de Química Industrial até que, por obra do acaso, ao inscrever a irmã no vestibular de outra faculdade — a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro —, se deparou com o curso de Sociologia e resolveu tentar. “Quando eu comecei a cursar eu vi que a universidade, em si, tinha mais a ver com a formação que eu queria ter”.

Ela conta que enquanto cursava a graduação começou a se interessar pelos meios de comunicação, mas não tinha professores que trabalhassem na área. Embora sua formação seja em Sociologia e Política, fez matérias de Pedagogia que, mais tarde, definiriam seu futuro profissional. A princípio procurou mestrados na área da educação, mas quando percebeu que não teria tanto contato com a mídia, mudou o foco. E assim sua jornada no estrangeiro começa. 


Televisión y Melodrama


Mais uma vez o acaso foi guia na vida de Márcia Gomes. Seu marido Milton Romero, com quem é casada desde a graduação, trabalhava em uma multinacional que indicou a possibilidade de ele ir para Colômbia, sua terra natal, e, assim, o casal se mudou do Rio de Janeiro. “Eu descobri o outro lado da América Latina”, conta. A professora estudou na Pontifícia Universidade Javeriana em Bogotá, de 1992 a 1995, e em 1994 passou seis meses na Universidade Iberoamericana no México.

Suas lembranças da época a levam ao seu orientador — tão estudado pelos alunos de Márcia —, Jesús Martín-Barbero. “Eu fiquei muito impactada com ele, lembro até hoje da entrevista. Ele é uma pessoa bem impressionante e talvez o fato de ser uma pessoa tão brilhante fazia com o que o aluno tivesse que fazer perguntas que estivessem à altura do interlocutor”, recorda.

Ela narra que foi um privilégio ser sua orientanda e que adequou seu tema de mestrado para ser aceita. “[A Colômbia] me deu a oportunidade de ter um orientador extremamente importante na área”. Sua ideia inicial era Documentário e Socialização, a educação informal através dos meios de comunicação e do documentário, mas Martín-Barbero havia lançado o livro “Televisión y Melodrama” pouco antes da entrevista, fazendo com que a professora mudasse seu foco de acordo com a narrativa do livro. E assim, trocou o documentário por telenovela e  defendeu sua dissertação em Comunicação.


“Na Itália eu descobri a África” 


“O mundo é um livro e aquele que não viaja lê apenas uma página”, frase atribuída a Santo Agostinho, mas que Márcia parece compartilhar. A professora tinha muitas páginas de oportunidades e o título se chamaria “O Doutorado: Roma ou Londres?”. No fim da história, Roma venceu e o próximo capítulo de sua vida seria o doutorado em Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Gregoriana. 

A primeira reação ao se deparar com o novo país foi comparar a universidade com as Pontifícias do Brasil que, segundo ela, são mais laicas devido a Gregoriana pertencer ao Estado do Vaticano e receber religiosos do mundo inteiro. A segunda observação foi a quantidade de colegas africanos que conviviam com ela. “Na Itália eu descobri a África”, relata demonstrando a surpresa que teve com a descoberta. E complementa: “Eu descobri os países, as culturas. A gente consegue, assim, visualizar outras partes do mundo”, lembrando de amigos que eram de Serra Leoa e Cabo Verde.

E além das pessoas, a paisagem italiana não pode deixar de ser notada. “Roma é uma cidade encantadora, tem história por todos os lados e você vive culturalmente a cidade”. Ela conta que embora, como a maioria dos estudantes, não tivesse muito dinheiro, uma vez por mês os museus eram abertos à comunidade de forma gratuita e assim aproveitava a experiência.  Comparando as duas vivências — na Colômbia e em Roma —, Márcia explica que ambas tiveram uma bagagem teórica rigorosa e exigente, mas serviram para ampliar sua visão de mundo e de possibilidades.


De volta ao Brasil


Acostumada com faculdades jesuítas e particulares, dar aula em uma universidade pública foi algo novo para o currículo. Voltou ao Brasil em 2002, no sétimo mês de gestação da filha Sofia. Seu marido começou a lecionar na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e quando a pequena completou um mês ela já estava trabalhando na UFMS. Mas Márcia não tinha pretensões de ficar, queria voltar para Bogotá onde já ministrara Teorias da Comunicação e tinha um emprego garantido. 

Porém, foi ficando por aqui e acabou gostando. A capital, segundo ela, tinha uma boa qualidade de vida e a experiência com os alunos era interessante. E em 2010 mais uma viagem internacional entrou para seu currículo. Foi à Espanha realizar o Pós-Doutorado. “Barcelona foi uma coisa diferente”, analisa. Sua principal lembrança da Universidade Autônoma de Barcelona é a sofisticada biblioteca, cuja seção de comunicação é um prédio de três andares, que a professora compara a largura ao bloco 13 da UFMS. Depois de um ano retorna para Campo Grande, e aqui faz morada.


Não Sabia? Agora está sabendo


Além da jornada no exterior, o que muitos não sabem é que Márcia Gomes Marques é natural de Três Lagoas, e sua família é de Bagé (RS). Sua mãe, Margarida Marques, fez história na UFMS ao ser precursora do curso de Jornalismo. Apesar de não ter uma teoria da comunicação favorita, a sua área de formação são os estudos de recepção. “Eu acho todas as teorias fascinantes, cada uma delas tem os seus encantos”, observa.

De toda a experiência curricular, considera que a graduação foi a mais importante para sua formação pessoal. Nessa época trabalhou por dois anos e meio dentro da universidade com uma professora cujo tema principal, e de grande interesse de Márcia, era feminismo. E após se formar, lecionou história por um ano.

É notório seu conhecimento e interesse pelo cinema. Ela conta que gosta de assistir filmes italianos para se manter fluente e assiste os franceses com legenda, pois seu francês é mais básico. Além disso, recomendou três títulos que aprecia: Submarine (britânico-americano), Lola e seus irmãos (Francês) e Caro Monicelli (italiano).

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