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Mulheres sofrem com as altas temperaturas

O calor extremo é uma das consequências das mudanças climáticas e afeta diretamente na vida das mulheres grávidas e no período da menopausa


Mariana do Nascimento Silva Viana e Sarai de Oliveira Brauna



No que o calor te afeta? Na vida de mulheres grávidas pode causar amplificação na alteração do humor e na sensação de mal-estar, além de causar o aumento dos casos de queda de pressão, o que pode ocasionar tonturas ou, até mesmo, desmaios. Já em mulheres no período de menopausa, é possível que o calor externo aumente os efeitos das ondas de calor interno, um dos sintomas do climatério.

A dona de casa Lourdes Ovando, 53 anos, reclama que o calor extremo tem afetado diretamente sua vida. “Muito calor, principalmente à noite. De madrugada tinha que levantar para tomar banho, está insuportável”, relata. Os calores internos da menopausa somados ao externo dificultaram a rotina de Lourdes, que cuida de casa e dos netos, além de afetar a qualidade do seu sono. Assim como Isabel Cristina, 56 anos, assistente administrativa, que sentiu os sintomas do climatério e conta que eles foram amplificados pelo calor.

Carolina Castelo Branco, residente do último ano de obstetrícia e ginecologia no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap), explica que a menopausa é a última menstruação da mulher, comprovada quando ela para de sangrar por um ano. Já o climatério são os sintomas do período antes e após a menopausa, que provoca sensações de calor de tempos em tempos. “Alteração no humor, alterações ginecológicas, ressecamento vaginal, dor durante a relação sexual e tudo isso afeta a qualidade de vida dela”.

Existem formas de amenizar os sintomas dessa fase, sendo um deles os hormônios. Ricardo Gomes, médico obstetra e ginecologista do Humap, diz que apesar das pessoas sentirem medo de ataque cardíaco por conta dos hormônios, eles podem ser aliados das mulheres nessa fase. “O ideal é justamente entrar cedo e em especial nos primeiros cinco anos (após a menopausa), e o maior motivo para usar hormônio é reduzir o desconforto”, esclarece. Lourdes conta que faz uso do medicamento e que ele ajudou a amenizar os sintomas do calor interno.

Mulheres grávidas normalmente já têm tendência a ter episódios de hipotensão, mas em temperaturas altas essa situação é mais comum, explica o médico. Grávida de nove meses, a jovem de 18 anos Nathalia Pereira está no período em que é necessário tomar mais cuidados com a pressão baixa. Ela relata que passou mal durante o calor e que precisou ir ao hospital.

Outra fase em que o calor atua como agravante é no trabalho de parto, que exige grande energia da mulher. Carolina Branco diz que dar à luz em locais pouco arejados pode causar grande mal-estar. “Quando a mulher está em trabalho de parto fica muito desconfortável, ela tem um esforço físico tremendo, já está desgastada ali com toda a situação do trabalho de parto e o calor dificulta ainda mais”.

Mesmo sendo um dos três maiores hospitais públicos do estado, o Humap conta com uma maternidade que não proporciona ar-condicionado ou ventilador em sua estrutura, e as pacientes que querem ter um pouco de conforto precisam levar o seu próprio ventilador. “Eu fiquei um dia aqui sem o ventilador, sábado inteiro, a noite para dormir foi triste, muito difícil”, relata Nicole Espinoza, de 26 anos, mãe de um recém-nascido.

Algumas áreas do Humap possuem ar-condicionado, enquanto na maternidade não. (Foto: Mariana Viana)


A assessoria do hospital explica que realmente não há ares-condicionados na maternidade, por conta da fiação elétrica ser muito antiga e não comporta ligar as máquinas essenciais para o funcionamento do local e, ao mesmo tempo, o ar-condicionado. Sobre ventiladores, os que não foram roubados, estragaram e não houve verba para reparos. Apesar disso, no mesmo prédio é observado a presença de aparelhos de ar na parte administrativa do local onde possui fiação mais nova.

Há previsão da situação ser resolvida com o investimento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que mandará R$44,7 bilhões para Mato Grosso do Sul para realizar a reforma de obras em três hospitais do estado, de acordo com a assessoria. No Humap será utilizado para reformar o Centro Cirúrgico, ambulatório da clínica médica, sala de hemodinâmica, Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas e para reestruturação elétrica.

Apesar de não afetar diretamente as mulheres grávidas e em período de menopausa, o calor externo ajuda a amplificar os sintomas sentidos por elas. A qualidade de vida dessas mulheres é prejudicada, o que leva a causar danos à saúde. “Uma mulher que já tem queixa de ondas de calor e atrapalha o sono dela, isso chega a provocar insônia, gerando assim alterações no convívio social, no trabalho, que piora bastante durante essa época de calor”, diz Carolina Branco.


E o calor extremo vem de onde?


As situações climáticas extremas estão sendo altamente pautadas na atualidade, principalmente neste ano, em que houve diversas ondas de calor anormais. De acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Campo Grande teve uma média de 33,3°C nas temperaturas máximas do mês de setembro deste ano, em 2023. Isso representa 2,7°C a mais que o esperado pela climatologia, ciência que estuda o clima. É um grande desvio, já que em comparativo com dezembro de 2022, que teve altas temperaturas, as médias foram de 31,7°C, apenas com 0,5°C acima do esperado.

Segundo Thiago Rodrigues, formado em física pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e com mestrado e doutorado na área de física ambiental, o efeito estufa natural da Terra, que tem como papel manter o calor na atmosfera, tem sido intensificado com a liberação do CO₂, o que faz com que mais calor fique aprisionado na atmosfera, tornando a temperatura do planeta maior.

O El Niño é o fenômeno que acontece sem periodicidade e promove o aquecimento das águas do Oceano Pacífico onde normalmente são frias, invertendo as zonas de pressão. No oceano cria-se uma zona de baixa pressão, e na parte central do país, onde está localizado Mato Grosso do Sul, uma zona de alta pressão que impede a formação de nuvens. ‘’El Niño mais severo e mais frequente, também pode estar ligado. A gente não tem essa relação de causa efeito ainda, mas pode ser já um efeito de mudanças climáticas’’, explica Thiago Rodrigues.


139 visualizações4 comentários

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4件のコメント


Enir Jr
Enir Jr
2023年11月21日

Excelente conteúdo. Propício para o momento, envolveu várias nuances desse nosso clima quente e seco. Muito bom.

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REBECA RODRIGUES FERRO
REBECA RODRIGUES FERRO
2023年11月17日

Reportagem muito boa! Abordaram um tema necessário, porém pouco falado.

Parabéns meninas! ;)

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Brunna Brondani 2
Brunna Brondani 2
2023年11月17日

Um tema necessário. Parabéns!!

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liviaf.freitas.lvf
2023年11月16日

Adorei

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