A tarifa está entre as dez mais caras do país e este pode não ser o único aumento do ano
João Pedro dos Santos Flores
Passageiros reclamam do preço e das condições do transporte - Foto: Pref. CG
Na Avenida Afonso Pena, Dona Elisa Ribeiro, de 65 anos, aguarda pelo ônibus 081, que liga os terminais Nova Bahia e Bandeirantes. Ela reclama sobre o preço da passagem estar cada vez mais caro e diz que ainda precisa melhorar muita coisa para justificar esses reajustes, como a instalação de ar condicionado e a falta de ônibus em horários de pico.
“Achei muito caro o preço da passagem. Eu mesma não tenho dinheiro para ficar pagando, só vim hoje porque minha filha me deu o dinheiro para pegar o ônibus. Mas precisa melhorar muita coisa ainda, tem pouco ônibus às 17h, que é quando as crianças estão saindo da escola, não tem ar condicionado nesse calor”.
Dona Elisa Ribeiro é apenas uma entre tantas pessoas em Campo Grande a reclamar do aumento do preço do transporte público. No dia 18 de março, os cidadãos começaram a pagar a nova tarifa de R$4,75, após decisão da prefeitura de reajustar o valor conforme determinação judicial.
Em sete datas especiais, os passageiros pagarão um valor reduzido de 40% do preço atual, equivalente a R$1,90: Dia do Trabalho, Dia das Mães, Dia dos Pais, Aniversário de Campo Grande, Dia de Finados, Natal e Ano Novo.
A tarifa diferenciada será válida para os usuários que tiverem a passagem com cartão eletrônico recarregável.
Por que aumentou o preço da passagem de ônibus?
De acordo com a Agência de Regulação de Serviços Públicos de Campo Grande (Agereg), o reajuste tarifário é feito anualmente, previsto no contrato de concessão do serviço. Contudo, de acordo com a Lei Federal 10.192/2001, “é nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção monetária de periodicidade inferior a um ano”.
Em disputa judicial que teve início no final de 2023, o Consórcio Guaicurus entrou na justiça solicitando a revisão tarifária dos últimos sete anos. Com isso, o preço da passagem poderia atingir o valor de R$7,90, o que tornaria Campo Grande a capital com tarifa mais cara no Brasil.
Em evento da prefeitura realizado no dia 19 de março, o diretor-presidente da Agereg, Odilon Oliveira Júnior, comentou sobre a possibilidade de ter outro aumento este ano. “Essa definição de hoje foi do reajuste anual. O entendimento da Agereg é de que não há necessidade de outro aumento, principalmente por conta dessa anualidade. Agora, se a justiça determinar qualquer outro entendimento, nós vamos ter de cumprir, recorreremos, mas teremos de cumprir”.
Em meio a tantas indefinições do valor da passagem ao longo do ano, quem sofre é a população, que paga preços mais caros por estruturas que seguem ruins.
Situações de quem pega ônibus
Silvana Arruda veio para Campo Grande em busca de emprego e mora no bairro Jockey Club. Entre tantas reclamações em relação à infraestrutura dos transportes, ela destaca a falta de conforto e a frota pequena que circula na região onde reside. “Eu acho que ficou bem carinho devido à lotação dos ônibus. Os ônibus são poucos, poderia ter mais, pelo menos mais umas duas linhas lá no meu bairro, porque só tem duas. E essas duas estão superlotadas. Já foram uns dois dias que eu fiquei lá no ponto, porque eles não me pegaram devido à lotação. E nisso já aumentou o vale. Então eu acho que ficou muito caro em vista de a gente não ter aquele conforto dentro”.
Sobre esse fator, ela lembra do ar condicionado que fica desligado em meio a tantas ondas de calor que atingem Mato Grosso do Sul nos últimos meses. De acordo com o Consórcio Guaicurus, a frota que circula na cidade é composta por 460 ônibus, sendo apenas 16 com o equipamento de climatização, ou seja, equivale a 3,47% do total.
“Apenas alguns que têm ar-condicionado, mas não ligam. A gente vem naquele calor horrível, cheio de gente, podendo ter mais ônibus nas linhas. Eu venho em pé, não só eu, como várias pessoas. Fiquei duas vezes na porta do ônibus, quase que fui prensada devido a tanta gente e aumentou só o valor da passagem, mas não tem um conforto para a gente. Teve uns três dias que cheguei no serviço às 7h10min porque está atrasando muito, por causa da lotação, e aí o motorista fica uns três minutos esperando o pessoal entrar, se acomodar e prensando um no outro que é para ele poder andar senão ele fica ali parado. Todo dia, quando vou trabalhar, estou indo em pé e todo dia também estou vindo em pé, porque raramente tem um lugar para a gente sentar e é caro, porque não tem tanto conforto, ainda mais que também mudou o preço da passagem”.
Aumento da tarifa na última década
Na última década, o preço da tarifa na Capital de Mato Grosso do Sul aumentou em 58%, saindo de R$3 em 2014 para R$4,75 neste ano. Segundo o Diário Oficial de Campo Grande, a Agereg apurou o reajuste tarifário para o ano de 2024 do Sistema Municipal de Transporte Coletivo através do Processo Regulatório n. 105769/2023-10, submetido à consulta do Conselho Municipal de Regulação e Controle Social no percentual de 2,94%.
Com este reajuste, Campo Grande entra para o top dez no ranking das capitais brasileiras com maior custo da passagem deste transporte público.
Capitais com a tarifa de ônibus mais cara | |
Porto Velho / RO | R$6 |
Curitiba | R$6 |
Boa Vista | R$5,50 |
Belo Horizonte | R$5,25 |
Salvador | R$5,20 |
Florianópolis | R$4,98 |
Cuiabá | R$4,95 |
João Pessoa | R$4,90 |
Porto Alegre | R$4,80 |
Campo Grande | R$4,75 |
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