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Raízes de trabalho

A jornada de Ângela Katisuren que cresceu na Feira Central de Campo Grande


Texto e fotos: Juliana Garcia e Querem Hapuque



Aos 54 anos, Ângela é um nome que ressoa na Feira Central de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Com avental azul e boné preto, ela se junta à família para compartilhar a sua cultura aos sul mato-grossenses. Feirante desde a infância, Ângela coloca toda a sua energia em cada passo, transformando dedicação em resultado.

- É cansativo, mas é muito bom, o convívio é muito bom - diz Ângela, ajustando os óculos de aro fino enquanto observa seu restaurante se enchendo de clientes.

A história de Ângela Katisuren não começa com uma vida privilegiada ou uma casa grande. Nascida em Campo Grande, filha de pai campo-grandense e mãe japonesa, Ângela enfrentou a perda precoce de seu pai. Com apenas 10 anos, começou a trabalhar para ajudar a mãe, que comprou uma barraca na Feira Central em 1980.

Ainda assim, Ângela se formou em Contabilidade, mas escolheu não exercer.

- Até tentei, estudei, me formei e fiz estágio, mas naquela época meu irmão foi para o Japão, então ficamos eu e minha mãe e continuei ajudando ela.

Foi a necessidade de levar sustento para dentro de casa que fez Ângela conhecer sua paixão pela profissão.

- Eu gosto de lidar com o público, conversar, eles são como uma família.

Hoje, Ângela é responsável pelo preparo do Sobá, um prato típico da região de Okinawa, e pelo atendimento aos clientes da barraca. Todas as terças e quintas, acorda cedo para cortar os ingredientes, preparar o molho e deixar tudo pronto. Nos finais de semana, sextas, sábados e domingos, vai para a feira atender. E mesmo com a rotina corrida, não deixa de praticar ginástica todos os dias.

- Temos que tirar um tempinho para cuidar da saúde - diz com determinação.

Nem sempre Ângela encontrou aplausos em seu caminho.

- Estava sentada na barraca quando me disseram que não podia ficar sentada, tinha que ficar esperando os clientes em pé, isso me marcou muito e até hoje não esqueço.

Ângela também citou que nem sempre teve facilidade em sua trajetória. No início, a infraestrutura era reduzida.

- Tínhamos que montar e desmontar a barraca todos os dias com tendas, e quando chovia era complicado.

Durante a Pandemia também teve problemas por conta do isolamento e contrataram serviços de aplicativos de entrega. Apesar dos desafios, ela tem convicção de que todo o trabalho tem suas dificuldades e sempre procura achar soluções para seguir em frente.

Além de sua jornada na feira, Ângela também já teve o seu próprio restaurante de comida japonesa que abriu com o apoio de seu marido, que faleceu, o que fez com que o restaurante fechasse. A perda foi difícil, mas Ângela seguiu em frente, com a força que sempre a caracterizou.

- Nunca pensei em desistir, minha realidade nem permitia - comenta Ângela. Atualmente, a feira vai muito além de um meio de sustento, é o legado de sua mãe.

Hoje, ao ser perguntada sobre suas realizações e objetivos para o futuro, Ângela reflete, com os olhos brilhando:

- Fico feliz com tudo que alcancei, mas queria estar junto do meu marido para que estivesse feliz por completo. Agora pretendo continuar atendendo até me aposentar e depois viajar e aproveitar a vida.

Ao olhar para trás, Ângela não pode deixar de lembrar com carinho da figura de sua mãe, que foi a maior inspiração nessa jornada.

- Minha mãe sempre batalhou, tenho ela como espelho.

A história de Ângela é rodeada de garra e amor, alguém que transformou a feira em seu lar e fez com que a sua paixão se tornasse uma verdadeira arte.





















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