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Tereré: bebida cultural que fortalece laços

Giovanna Fernandes e Lívia Medina



É uma segunda-feira de um dia ensolarado e Silvia Maria, de 51 anos, se prepara para mais um dia de serviço. Após acordar, ela vai direto para a cozinha. Como de costume, a jarra térmica azul e o pote transparente de erva já se encontram em cima da mesa. A mulher abre a gaveta de utensílios e escolhe, dentro de sua coleção, o copo e a erva que irá usar. Com isso, ela coloca a erva de menta no copo junto com a bomba, retira do congelador o recipiente de metal que comprou para justamente armazenar o gelo do tereré e os quebra com a faca que comprou somente para realizar esse serviço. Com a bebida já preparada, começa a realizar suas tarefas diárias enquanto desfruta do tereré em companhia de seus filhos.

Considerado como um dos símbolos da história de Mato Grosso do Sul, o tereré – em castelhano conhecido originalmente por tererê – é composto por uma erva mais grossa que a utilizada no chimarrão e possui presença em estabelecimentos, revistas, jornais e pinturas relativas ao Estado, comemorações e principalmente como um significado de união entre os moradores ao ser compartilhada com amigos, familiares e colegas.



Essa bebida se tornou patrimônio imaterial e cultural do Estado do Mato Grosso do Sul no dia primeiro de abril de 2011 e em 2020 se tornou um patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco.

Com o decorrer do tempo, alguns objetos e as ervas foram mudando ou se ampliando em opções. A guampa, originalmente feita de chifre de gado, hoje pode ser substituída por elementos mais acessíveis, como por exemplo um copo de vidro, plástico ou alumínio. As garrafas térmicas podem ser substituídas por garrafas de plástico ou jarras de materiais diversos e hoje, o mercado possibilita que o consumidor escolha o sabor da erva que mais lhe agrada. Para o sul-mato-grossense, o importante é compartilhar uma bebida refrescante com um grupo de pessoas, a famosa roda de tereré.

“Conheci a maioria dos meus amigos através de uma roda de tereré. Um conhecido vai chamando outro e quando vemos, estamos todos rindo e conversando. Para mim, esse é um momento de criar laços e conhecer novas pessoas”, comenta Kariny dos Santos, de 24 anos, enquanto toma tereré em um copo de alumínio.

Ana Carolina Hanesen, de 19 anos, conta sobre sua trajetória com a bebida. A jovem teve seu primeiro contato por meio de seu irmão que costumava tomar tereré com os amigos em frente à casa da família. Ela continua com essa tradição que aprendeu observando seus irmãos e agora faz o mesmo com seus amigos que sempre se juntam em uma praça. Esse é um momento em que eles se divertem e trocam conversas por horas seguidas. “Para mim, o tereré é uma forma de colecionar momentos, minhas melhores memórias com meus amigos envolve uma roda com tereré”, relatou com um sorriso no rosto. Seus olhos brilhavam ao lembrar de algumas histórias que viveu junto com sua turma.

Há muitos mitos e histórias sobre o seu surgimento e sua criação, mas se sabe que a origem da bebida que hoje conhecemos como tereré está nos povos indígenas, como os Guaranis, que se encontravam nas regiões da Bolívia, Paraguai, Uruguai e no Brasil colônia.


O tereré foi nomeado desta forma por causa do ruído que ocorre quando a água no copo está acabando. Ele chegou ao Sul do Mato Grosso, antes da divisão dos dois estados, no século XIX, quando os ervais nativos começaram a ser explorados para comercialização entre Paraguai e Brasil. De Ponta Porã, se disseminou por todo Estado.

A bebida é tão forte no estado do MS que já se tornou algo comum entre as famílias. Além de ser uma tradição, também influencia os comércios com suas bancas e vendas de copos, ervas e garrafas. É possível ver que produtos relacionados a essa prática tem grande movimentação por Campo Grande em seus mercados e lojas comerciais.

Ao entrar no Mercado Municipal de Campo Grande – mais conhecido como Mercadão – é perceptível o aroma de ervas e temperos. O lugar é bem grande e geralmente está sempre cheio de consumidores. O mercado conta com muitas bancas, uma ao lado da outra, com diversos tipos de produtos e é muito prestigiado pelos moradores de Campo Grande. Há espaços para vendas de carnes, queijos, artesanato, salgados e até mesmo objetos para animais de estimação, contudo, ao entrar no local, o que mais predomina são as vendas de ervas, bombas e copos. Lá se encontram todos os sabores de ervas, de menta até as tradicionais, bombas com ornamentos ou simples, copos gravados com times, nomes ou desenhos, e as tradicionais guampas de boi. Tudo organizado e exibido aos compradores.



Dhione de Souza, vendedor da Banca da Gleice, comenta que embora venda diversos tipos de objetos, o mais procurado sempre foi a erva de tereré e que mesmo com a diversidade de sabores, a erva mate tradicional ainda é muito procurada pelos clientes. Assim como Dhione, João Vitor da banca 82 afirma que muitos clientes vão ao Mercadão somente para comprar ervas. Ele ainda acrescenta que a maioria dos turistas que passam por lá, leva uma guampa tradicional de chifre de gado como lembrança, mas que os campo-grandenses preferem os copos mais práticos. Embora muito conhecido, há pessoas como Silvia Maria que pela grande distância, prefere comprar sua erva no estabelecimento próximo a sua casa, do qual já é uma cliente conhecida, que vende somente materiais de tereré e chimarrão.


Os benefícios e malefícios do tereré


O tereré assim, como o chimarrão, contém diversas propriedades que podem ajudar na prevenção de doenças. Além disso, possui uma rica quantidade de sais minerais e antioxidantes. A bebida ajuda no combate ao envelhecimento das células e na sua regeneração. O consumidor ainda pode acrescentar outras folhas medicinais na água.

Embora contribua com nutrientes para a saúde, o tereré tem uma grande quantidade de cafeína em sua composição que, ao ingerida em excesso, pode aumentar os níveis de pressão arterial e a frequência cardíaca. Sendo assim, é recomendado o consumo de no máximo um litro a 1,5 litros por dia. O aviso é reforçado para aqueles que misturam o tereré com outras bebidas, como por exemplo suco e refrigerante.


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