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Território sem Lei

Comprar bebidas alcóolicas é fácil na vida noturna de Campo Grande, inclusive para menores de idade


Texto : Kauã dos Santos, Lis Luna, Lucas Oliveira e Paloma Rainho Maldonado

Fotos: Kauã dos Santos



Vida noturna: centro da cidade se tornou ponto de encontro de jovens em Campo Grande


Nos últimos cinco meses, a rua 14 de Julho, no centro de Campo Grande, tornou-se um local de bares e entretenimento para adultos. Após a alta popularidade dos bares, o local começou a receber monitoramento policial. Nos últimos meses, não é difícil observar as autoridades presentes no local. Ainda assim, a fiscalização de venda e consumo de álcool para menores de 18 anos é falha.

 

A venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos é proibida por lei no Brasil, com penas que incluem detenção de até quatro anos ou multas, mas a falta de fiscalização efetiva permite que muitos adolescentes consumam álcool sem restrições. Nos últimos anos, o número de adolescentes que começaram a beber antes dos 18 anos só aumenta. De acordo com uma pesquisa de 2019 do Centro de Informações sobre saúde e álcool (CISA), organização não-governamental sediada em São Paulo, revelou que a idade média em que os jovens e adolescentes começam a ingerir bebidas alcoólicas é de 12,5 anos. A mesma pesquisa revela que aproximadamente 43,8% consumiram álcool em festas e 17,8% entre amigos.

 

O movimento dos bares na rua 14 de Julho começa a partir das sete da noite. Enquanto o comércio de roupas e outros produtos fecha, os outros comerciantes de bares e similares começam a se organizar. Mesas na calçada, bebidas chegando e a multidão que vai se dirigindo à rua para mais uma noite de entretenimento.

 


A venda e o consumo de álcool são indiscriminados, não importa a idade de quem compra tampouco a procedência da bebida


Mesmo com a suspensão do fechamento da rua para a vida noturna, ainda há muito movimento. Além dos bares tradicionais, há ambulantes, as populares barraquinhas de rua. Até lojas de roupas de bebê aproveitam a ocasião para vender bebidas alcóolicas como todos os outros estabelecimentos. O policiamento que circula pela região, não há fiscalização quanto à licença para vender bebidas e muito menos para menores de idade.

 

Casos como o de Débora Gonçalves, de apenas 15 anos, ilustram essa realidade. “O que me motivou foi a ideia de que a bebida faria eu me divertir mais. Não encontrei dificuldades na compra, o vendedor não demonstrou preocupação alguma, não perguntou minha idade ou pediu meus documentos. Só me arrependi de beber mais tarde, quando percebi que estava visivelmente sob efeito do álcool. Fiz tudo por conta própria e tenho consciência dos riscos do consumo”.

 

Além disso, o Bar da 14, o Bar Madonna e cinco barracas de vendedores ambulantes que estavam presentes no local não solicitaram identificação na hora de vender as bebidas alcoólicas. Foi o que a reportagem apurou. Uma de nossas repórteres, menor de idade, conseguiu comprar um coquetel de morango. “Mais álcool  do que qualquer coisa, muito forte. Duas doses de cachaça em um só drink, com a quantidade de morango que colocaram eu achei que seria tipo um suco”, relatou a repórter.


O psiquiatra e pesquisador Ronaldo Laranjeira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), alerta para os graves danos que o consumo precoce de álcool pode causar ao desenvolvimento cerebral dos adolescentes. Segundo ele, o cérebro dos jovens ainda está em formação e o álcool pode afetar diretamente funções importantes, como a memória, o controle das emoções e a capacidade de tomada de decisão. Laranjeira também destaca que o início do consumo de álcool antes dos 15 anos aumenta de forma significativa a probabilidade de dependência futura.

 

O consumo de álcool é um fator importante também quando pensamos em violência. O álcool está presente em homicídios, suicídios, violência doméstica, crimes sexuais, atropelamentos e acidentes envolvendo motoristas. Segundo a Revista Brasileira de Psiquiatria, cerca de 15% a 66% de todos os homicídios e agressões sérias, o agressor, vítima, ou ambos tinham ingerido bebidas alcoólicas.

É o que ocorreu com o cantor e ator Begèt de Lucena, de 36 anos, que foi agredido e esfaqueado no Centro de Campo Grande por volta das 1h40 do dia 11 de outubro, no cruzamento da Rua General Melo e 14 de Julho, próximo a um bar. Conforme o boletim de ocorrência, o artista foi esfaqueado pelo menos quatro vezes por um grupo de oito pessoas.

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